Técnica simples pode ajudar a encontrar objetos que contenham sistemas planetários similares aos nossos
Um quarteto de pesquisadores brasileiros desenvolveu um protocolo para a busca de estrelas gêmeas do Sol, iniciando a caça por uma propriedade simples: a cor. O trabalho, que pode ter implicações importantes para a compreensão de como se formam sistemas planetários semelhantes ao nosso, resultou na detecção de cinco prováveis gêmeas solares, além de outras cinco que poderiam se enquadrar na categoria.
Faz sentido separar estrelas pela cor. Embora sejam todas bolas de gás hidrogênio compactadas pela gravidade, seu tamanho e temperatura ditam características denunciadas pelas cores. Dentre aquelas que estão em fase de atividade normal (fundindo átomos de hidrogênio em seu núcleo), as menores e mais frias tendem ao vermelho; as maiores e mais quentes caem para o azul. O Sol, no meio do caminho, tem a familiar cor amarelada. Então, há tempos se sabe que cor e luminosidade podem indicar similaridade entre estrelas. Mas quão úteis seriam esses parâmetros básicos para achar astros praticamente idênticos ao Sol? Essa foi uma das premissas que o trabalho de Gustavo Porto de Mello, da UFRJ, e colegas se propôs a verificar.
Eles partiram do catálogo Hipparcos -elaborado pelo satélite europeu de mesmo nome-, que contém cerca de 2,5 milhões de estrelas num raio de cerca de 500 anos-luz (cada ano-luz tem cerca de 9,5 trilhões de km). A ideia era se concentrar em astros mais próximos, a até aproximadamente 160 anos-luz de distância. Para a primeira peneirada eles usaram basicamente a cor -e com isso chegaram a 133 candidatas parecidas com o Sol.
"O índice de similaridade de cor se mostrou muito bem-sucedido", afirma Mello.
Há muitos parâmetros diferentes que podem flutuar em estrelas. A quantidade de metais pesados, a idade, a temperatura e o nível de atividade são alguns deles. Para verificá-los, é preciso analisar seu espectro, ou seja, o padrão luminoso que se forma quando a luz é separada em suas cores. A análise dos espectros das candidatas revelou dez estrelas que poderiam ser tidas como gêmeas do Sol. Quatro delas se destacaram: HD 98649, HD 118598, HD 150248 e HD 164595. "Essas quatro têm parâmetros evolutivos e atmosféricos indistinguíveis dos solares."
MIL E UMA UTILIDADES
As gêmeas solares são importantes por uma razão prática. Como os telescópios em terra não podem ser apontados para o Sol, elas fornecem uma referência de calibragem importante para os instrumentos no céu noturno. Contudo, o grupo da UFRJ e do Observatório Nacional sugere que buscas por planetas sejam conduzidas nesses astros, para entender se existe uma relação entre a arquitetura dos sistemas planetários e as características mais sutis de suas estrelas-mãe. Outra aplicação seria ter objetos que merecessem observações focadas na procura por sinais artificiais de possíveis civilizações alienígenas. Os resultados do grupo foram publicados na revista "Astronomy&Astrophysics".
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