Em
astronomia, anã branca é o objeto celeste resultante do processo evolutivo de
estrelas de até 10 M Sol, o que significa dizer que cerca de 98% de todas as
estrelas evoluirão até a fase de anã branca, entretanto, somente 6% dos objetos
nas vizinhanças do Sol são anãs brancas.
Estrelas
com até 10 MSol não são massivas o suficiente para que a temperatura em seu
núcleo seja suficientemente alta para que possam fundir carbono em reações de
nucleossíntese. Após terem se tornado gigantes vermelhas durante a fase de
queima nuclear de Hélio/Hidrogênio, elas ejetarão sua camada externa, formando
uma nebulosa planetária e deixando para trás um núcleo composto praticamente de
carbono e oxigênio.
Embora este
núcleo seja mil vezes mais luminoso que o Sol e com uma temperatura efetiva que
pode chegar a 150 000 K, ele não tem uma fonte de energia adicional e irá
gradualmente irradiar sua energia e esfriar. O núcleo, sem o suporte contra o
colapso gravitacional oferecido pelas reações de fusão termonucleares, torna-se
extremamente denso, com uma massa típica de 0,6 MSol contida em um volume
comparável ao da Terra.
O colapso
gravitacional da anã branca é barrado apenas pela pressão de degenerescência
eletrônica. A maior massa de uma anã branca, além da qual a pressão da matéria
degenerada não pode mais suporta-la, é em torno de 1,4 MSol. Uma anã branca com
massa maior do que este limite (conhecido como limite de Chandrasekhar ) pode
explodir em uma supernova.
À medida
que esfriam, as anãs brancas passam pelas chamadas faixas de instabilidade do
diagrama HR, quando começam a pulsar, tornando-se anãs brancas pulsantes.
Como as
anãs brancas esfriam vagarosamente, seriam necessários centenas de bilhões de
anos para que uma anã branca esfriasse o suficiente para deixar de ser visível,
se transformando em anãs negras. Como a idade do universo é atualmente estimada
em 13,7 bilhões de anos, elas ainda não tiveram tempo suficiente para esfriar a
ponto de deixarem de ser visíveis. Mesmo as anãs brancas mais velhas do disco
de nossa galáxia ainda estão visíveis, com luminosidades acima de 3x10-5 LSol e
temperaturas superficiais efetivas da ordem de 3700 K.
Todas as
estrelas com até 10 MSol terminarão como anãs brancas, depois de todo o
hidrogênio que elas possuem ter sido queimado em hélio. Próximo do fim deste
estágio de queima nuclear, essas estrelas passam por uma fase de gigante
vermelha e então ejetam a maior parte de suas camadas superficiais, criando uma
nebulosa planetária envolta do núcleo quente (T > 100 000 K), o qual irá se
transformar em uma jovem anã branca que brilha por causa de seu calor residual.
Uma anã
branca típica tem cerca de 0,6 massas solares, com um tamanho algumas vezes
maior que a Terra, o que faz das anãs brancas uma das formas mais densas de
matéria (em média 109 kg/cm3; em alguns casos, pode chegar a 10.000 kg/cm3!),
superadas apenas pelas estrelas de nêutrons, buracos negros, e pelas
hipotéticas estrelas de quarks. Quanto maior a massa de uma anã branca, menor
seu tamanho. Existe um limite máximo para a massa de uma anã branca, o limite
de Chandrasekhar (cerca de 1,4 vezes a massa do Sol). Se esse limite é
excedido, a pressão exercida pelos elétrons deixa de ser suficiente para
contrabalançar a força gravitacional, e a estrela colapsa para uma estrela de
nêutrons. As anãs brancas de carbono/oxigênio evitam esta fatalidade através de
uma reação de fusão nuclear que leva a uma explosão de supernova de tipo Ia,
antes de atingir o limite de massa.
Apesar
deste limite, a maioria das estrelas termina suas vidas como anãs brancas,
desde que elas tendem a ejectar mais massa no espaço antes do colapso final,
frequentemente gerando uma espetacular nebulosa planetária. É por causa disso
que mesmo estrelas mais massivas, com 8 MSol terminarão como anãs brancas,
esfriando gradualmente até tornarem-se anãs negras.
Características
Muitas anãs
brancas são aproximadamente do tamanho da Terra, tipicamente 100 vezes menor
que o diâmetro do Sol; sua massa média está entre 0,5-0,6 massas solares,
apesar de existir uma pequena variação. Seu estado condensado implica que a
mesma quantidade de matéria está compactada em um volume tipicamente 1 milhão
de vezes menor que o do Sol, o que faz com que sua densidade média seja 1
milhão de vezes maior que a densidade média do Sol. Nestas condições, a matéria
está em um estado degenerado.
A matéria degenerada
comporta-se de um modo levemente contra-intuitivo; por exemplo, quanto maior é
a massa de uma anã branca, menor ela será e maior será sua densidade. Nos anos
de 1930, isto foi explicado através da mecânica quântica: o peso de uma anã
branca é suportado pela pressão de degenerescência eletrônica, o qual depende
da densidade e não da temperatura. O modelo do gás de Fermi nos ajuda a
compreender melhor este efeito.
Se, para
todas as estrelas observadas, for feito um diagrama do brilho (absoluto) contra
a cor (diagrama de Hertzprung-Russel ou diagrama HR), nem todas as combinações
de brilho e cor ocorrem. Poucas estrelas estão na região
baixo-brilho-cor-quente (as anãs brancas), mas a maioria das estrelas seguem
uma faixa, chamada sequência principal. Estrelas de baixa massa da sequência
principal são pequenas e frias. Elas são avermelhadas e são chamadas de anãs
vermelhas ou (ainda mais frias), anãs marrons. Essas pertencem a uma classe de
corpos celestes inteiramente diferente da classe das anãs brancas. Nas anãs
vermelhas, como em todas as estrelas da sequência principal, a pressão que
contrabalança a força gravitacional é causada pelo movimento térmico do gás. A
pressão obedece à lei dos gases ideais. Uma outra classe de estrelas é chamada
de gigantes: estrelas na região de alto brilho no diagrama HR. São estrelas
infladas pela pressão de radiação e são muito grandes.
História das descobertas
A primeira
anã branca descoberta foi a companheira da estrela Sírius (α Canis Majoris), a
estrela mais brilhante do céu. Em 1844, Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846)
analisando perturbações no movimento próprio de Sírius, concluiu que Sírius
possuiria uma companheira que não podia ser observada com seu telescópio, mas
com a qual formaria um sistema binário. Bessel estimou que o período orbital do
sistema seria da ordem de 100 anos. Somente em 31 de janeiro de 1862, Alvan
Graham Clark Jr. (1832-1897), enquanto testava um novo telescópio refrator de
37 cm de diâmetro, descobriu uma estrela próxima de Sírius, uma estrela fraca
de magnitude 8, que até então nunca havia sido observada. Era a companheira de
Sírius, cuja existência Bessel havia predicto. A companheira de Sírius passou a
ser chamada de Sírius B (enquanto Sírius passou a ser chamadada e Sírius A).
Em 1914, o
americano (nascido na Síria) Walter Sydney Adams (1876-1956), analisou o
espectro de Sírius B e descobriu que sua baixa luminosidade e sua alta
temperatura efetiva indicavam um raio de 18 000 km, ou seja, duas vezes e meia
o raio da Terra, mas tendo a mesma massa do Sol. Sua densidade média era altíssima:
150 000 vezes a densidade da água. Era o objeto mais denso conhecido até então.
Por causa de seu pequeno tamanho e da cor branca de sua luz, esta estranha
estrela foi chamada de anã branca.
Até 1917
outras duas estrelas com as mesmas características de Sírius B foram
descobertas: 40 Eridani B e van Maanen 2, esta última descoberta por Adriaan
van Maanen (1884-1946), sugerindo a existência de uma classe de objetos que
passou a ser chamada de anãs brancas.
A alta
densidade da matéria condensada que formava as anãs brancas permaneceu como um
desafio para a Física moderna até que em 1939, Subrahmanyan Chandrasekhar
(1910-1995) desenvolveu uma teoria rigorosa descrevendo a estrutura dessas
estrela. Chandrasekhar propôs que a pressão que suporta tão altas densidades é
a pressão de degenerescência eletrônica decorrente do princípio de exclusão de
Pauli, segundo o qual dois elétrons de mesmo spin não podem ocupar o mesmo
nível de energia. O elétrons têm momenta e energia cinéticas tão altos (muito
maiores do que indicaria sua energia térmica) e contrabalançam o colapso
gravitacional. Por esta razão, anãs brancas (e estrelas de nêutrons também) são
chamados de objetos degenerados. Atualmente, mais de 10000 anãs brancas são
conhecidas.
Anã negra
Uma estrela
anã negra é um objeto astronômico hipotético: uma anã branca tão velha que
esfriou o suficiente para não mais emitir luz. Para a idade do universo
estimada atualmente em 13,7 bilhões de anos, não se espera que nenhuma anã
branca tenha tido tempo suficiente para esfriar a tal ponto.
Evolução
Uma estrela
anã branca é o que sobra de uma estrela de 8 a 10 massas solares depois de ter
queimado todo o seu hidrogênio e hélio em elementos mais pesados como carbono,
oxigênio, e nitrogênio, não podendo levar adiante qualquer fusão nuclear de
seus sub-produtos. Ela então começa a esfriar com a emissão de radiação
térmica.
Mesmo se
estrelas anãs negras existissem, elas seriam extremamente difíceis de serem
detectadas, desde que, por definição, elas emitiriam pouquíssima radiação, pois
sua temperatura superficial estaria não muito acima da temperatura da radiação
de fundo do universo (~ 3 K). Seriam apenas detectáveis indiretamente, através
de sua influência gravitacional sobre objetos próximos.
Ambas, as
anãs negras e as anãs brancas, são estrelas degeneradas.
Anãs negras
não devem ser confundidas com anãs marrons, as quais são formadas quando uma
nuvem de gás contrai para formar uma estrela, mas não possui massa suficiente
para iniciar e manter o processo de fusão nuclear do hidrogênio. "Anãs
marrons" chegaram a ser chamadas algumas vezes de "anãs negras"
nos anos de 1960. Tão pouco, deve-se confundir anãs negras com buracos negros
ou estrelas de nêutrons, apesar de ambos serem resultado do processo de
esfriamento de estrelas, porém mais massivas que 10 massas solares.
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