Motor de dobra realístico
A ideia de construir um "motor de dobra" saiu do reino da ficção para o reino das teorias científicas por meio do físico mexicano Miguel Alcubierre, em 1944.
Alcubierre propôs um esquema para construir um motor de dobra que não é especificamente um motor, mas uma bolha que faria com que o espaço-tempo à frente da bolha se contraísse, expandindo-se logo atrás dela - a espaçonave poderia literalmente surfar dobrando o espaço-tempo, sem nenhuma aceleração e sem entrar em conflito com a Teoria da Relatividade.
O problema é que, para construir essa nave em forma de gota, seria necessário um tipo de matéria exótica, com energia negativa, o que fez grande parte dos físicos torcerem o nariz para a teoria porque não existe comprovação de que tal material seja factível.
Agora, contudo, dois físicos publicaram o primeiro modelo de motor de dobra que não fere nenhum conceito da física e não exige nenhuma matéria exótica e nenhum ingrediente que já não esteja incluído nas teorias físicas aceitas pela comunidade científica.
Motor de dobra genérico
"Muitas pessoas no campo da ciência estão cientes do motor de Alcubierre e acreditam que os motores de dobra não são físicos [não são possíveis pela Física] por causa da necessidade de energia negativa," disse Alexey Bobrick, da Universidade Lund, na Suécia.
"Isso, no entanto, não é mais correto; seguimos em uma direção diferente da NASA e outros [pesquisadores], e nossa pesquisa mostrou que existem, na verdade, várias outras classes de motores de dobra na Relatividade Geral. Em particular, formulamos novas classes de soluções de motores de dobra que não requerem energia negativa e, assim, tornam-se físicos," completou.
Na verdade, o modelo criado pela dupla é genérico, unificando todas as propostas de motores de dobra feitas anteriormente, sendo o motor de Alcubierre apenas um desses casos.
Física e matematicamente possível
A Teoria da Relatividade proíbe que qualquer coisa viaje acima da velocidade da luz, mas isso não vale para o próprio tecido do espaço-tempo, que pode se curvar em qualquer velocidade. Assim, a proposta é construir uma nave com uma densidade suficiente para fazer o espaço-tempo se curvar. Quanto mais fina for a parte frontal da nave, menos massa será necessário para conseguir isso.
Além de que tudo agora cab direitinho dentro das teorias, o resultado final não é tão diferente das propostas anteriores.
Uma das novidades é que, enquanto nas propostas anteriores o motor de dobra não é realmente um motor, mas uma esfera que surfa por ondas do espaço-tempo, pelo novo modelo o motor de dobra exigirá propulsão, consistindo de um casco externo, com o formato o mais próximo possível de um disco, feito de matéria comum ou exótica, que surfará inercialmente depois de ter atingido uma velocidade determinada.
"Apresentamos o primeiro modelo geral para motores de dobra subluminais de energia positiva, esfericamente simétricos; a construção de soluções para motores de dobra superluminais que satisfazem as desigualdades quânticas; fornecemos otimizações para a métrica de Alcubierre, que diminui as necessidades de energia negativa em duas ordens de magnitude; e introduzimos um motor de dobra espaçotemporal no qual a capacidade de espaço e a taxa de tempo podem ser escolhidas de maneira controlada," escreveram eles.
O fato de ser matemática e fisicamente possível, não significa que agora ficou fácil construir um motor de dobra.
A nova teoria torna isso possível, mas ainda exigirá o uso de materiais com uma densidade inalcançável pelos meios tecnológicos disponíveis, devido à massa necessária para construir essa nave-motor.
Isso, contudo, não tira o entusiasmo da dupla.
"Embora ainda não possamos quebrar a velocidade da luz, não precisamos fazer isso para nos tornarmos uma espécie interestelar. Nossa pesquisa de propulsão de dobra tem o potencial de nos unir a todos," disse Gianni Martire, coautor da proposta.
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