Um conjunto recentemente divulgado de mapas topográficos fornece novas evidências para um antigo oceano no norte de Marte. Os mapas oferecem o caso mais forte de que o planeta outrora teve uma subida do nível do mar consistente com um prolongado clima quente e húmido, e não a paisagem dura e gelada que existe hoje em dia.
Composta recorrendo a 28 exposições individuais, esta imagem pelo rover Curiosity da NASA foi capturada depois do veículo subir a encosta íngreme de uma característica geológica chamada "Greenheugh Pediment". Ao longe, no topo da imagem, está o chão da Cratera Gale, que está perto de uma região chamada Aeolis Dorsa, que os investigadores pensam ter sido outrora um oceano gigantesco. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
"O que nos vem imediatamente à mente como um dos pontos mais importantes aqui é que a existência de um oceano deste tamanho significa um potencial de vida mais elevado", disse Benjamin Cardenas, professor assistente de geocências da Universidade Estatal da Pensilvânia e autor principal do estudo recentemente publicado na revista Journal of Geophysical Research: Planets. "Diz-nos também mais sobre o clima antigo e a sua evolução. Com base nestas descobertas, sabemos que deve ter havido um período que era suficientemente quente e a atmosfera era suficientemente espessa para suportar tanta água líquida de uma só vez".
Há muito que se debate, na comunidade científica, se Marte já teve um oceano no seu hemisfério norte de baixa elevação, explicou Cardenas. Usando dados topográficos, a equipa de investigação conseguiu mostrar evidências definitivas de uma linha costeira com cerca de 3,5 mil milhões de anos com uma acumulação sedimentar substancial, de pelo menos 900 metros de espessura, que cobre centenas de milhares de quilómetros quadrados.
"A grande novidade que fizemos neste artigo foi pensar em Marte em termos da sua estratigrafia e do seu registo sedimentar", disse Cardenas. "Na Terra, traçamos a história dos cursos de água olhando para os sedimentos que se depositam ao longo do tempo. Chamamos a isso estratigrafia, a ideia de que a água transporta sedimentos e que se podem medir as mudanças na Terra através da compreensão da forma como os sedimentos se acumulam. Foi o que fizemos aqui - mas é Marte".
Há muito que se debate, na comunidade científica, se Marte já teve um oceano no seu hemisfério norte de baixa elevação. Usando dados topográficos, a equipa de investigação conseguiu mostrar evidências definitivas de uma linha costeira com cerca de 3,5 mil milhões de anos com uma acumulação sedimentar substancial, de pelo menos 900 metros de espessura, que cobre centenas de milhares de quilómetros quadrados. Crédito: Benjamin Cardenas/Universidade Estatal da Pensilvânia
A equipa utilizou software desenvolvido pelo USGS (United States Geological Survey) para mapear dados da NASA e do instrumento MOLA (Mars Orbiter Laser Altimeter) da sonda Mars Global Surveyor. Descobriram mais de 6500 quilómetros de cristas fluviais e agruparam-nas em 20 sistemas para mostrar que são provavelmente deltas de rios ou canais submarinos, os remanescentes de uma antiga linha costeira marciana.
Elementos de formações rochosas, tais como espessuras do sistema de cristas, elevações, localizações e possíveis direções de fluxo sedimentar ajudaram a equipa a compreender a evolução da paleogeografia da região. Cardenas explicou que a área que antes era oceânica é agora conhecida como Aeolis Dorsa e contém a mais densa coleção de cristas fluviais do planeta.
"As rochas em Aeolis Dorsa capturam algumas informações fascinantes sobre como o oceano era", disse. "Era dinâmico. O nível do mar subiu significativamente. As rochas estavam a ser depositadas ao longo das suas bacias a um ritmo acelerado. Havia muitas mudanças a acontecer aqui".
Cardenas explicou que, na Terra, as antigas bacias sedimentares contêm os registos estratigráficos da evolução do clima e da vida. Se os cientistas quiserem encontrar um registo de vida em Marte, um oceano tão grande como o que outrora cobriu Aeolis Dorsa seria o local mais lógico para começar.
"Um grande objetivo das missões dos rovers marcianos é procurar sinais de vida", disse Cardenas. "Têm andado sempre à procura de água, de vestígios de vida. Este é o maior de todos os tempos. É um corpo gigante de água, alimentado por sedimentos provenientes das terras altas, presumivelmente transportando nutrientes. Se houvesse marés no antigo Marte, teriam existido aqui, trazendo suavemente água para dentro e para fora. Este é exatamente o tipo de lugar onde a antiga vida marciana poder ter evoluído".
Cardenas e colegas mapearam o que determinaram serem outros antigos cursos de água em Marte. Um estudo futuro na revista Journal of Sedimentary Research mostra que vários afloramentos visitados pelo rover Curiosity eram provavelmente estratos sedimentares de antigas barras de rios. Outro artigo publicado na Nature Geoscience aplica uma técnica de imagem acústica, usada para ver estratigrafia sob o fundo do mar do Golfo do México, a um modelo de erosão de uma bacia marciana.
Os investigadores determinaram que os relevos chamados cristas fluviais, encontradas amplamente em Marte, são provavelmente antigos depósitos fluviais erodidos de grandes bacias semelhantes a Aeolis Dorsa.
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