Muitos segredos do universo, incluindo a forma da Terra, foram desvendados com a ajuda dos eclipses.
Usados como um instrumento natural, eles enriqueceram a história da Astronomia desde quando se debatia se a Terra era ou não redonda. Para as pessoas, os eclipses evocam mistérios, mas para os astrônomos eles são justamente o oposto: uma ocasião para desvendar mistérios. É longa a lista de felizes descobertas feitas a partir desse extraordinário instrumento natural – o alinhamento dos astros no céu. Parece exagero, mas até a massa das estrelas distantes e a curvatura do espaço-tempo – prevista pela teoria da Relatividade de Einstein — podem ser as aliadas por meio dos eclipses. Seus ensinamentos, portanto, estendem-se até os confins do Universo.Vale a pena conhecer um breve resumo dos ensinamentos de maior impacto.
A forma da Terra
Os gregos sabiam que, no momento de um eclipse, a Lua se encontrava em posição oposta ao Sol, em relação à Terra. Isto e, a mancha escura aparecia em sua face quando ela entrava no cone da sombra da Terra. Assim, o grego Aristóteles, já no quarto século antes de Cristo, percebeu que a Terra é redonda. Também refutou idéias de que ela estaria apoiada, por exemplo, nas costas de elefantes cósmicos: nunca apareciam as sombras desses suportes.
O tamanho e a distância da Lua.
Basta observá-la para ver que a Lua se desloca com relação às estrelas a uma velocidade mensurável: em uma hora, ela anda uma distancia igual a seu diâmetro. Isso permitiu que Aristarco de Samos, no terceiro século antes de Cristo, obtivesse um valor admiravelmente correto para o tamanho da Lua. O cálculo é simples. Como, nos eclipses mais longos, ela ficava mergulha¬da na sombra da Terra por 3 horas, seu diâmetro deveria ser um terço do da Terra. Além disso, o fato de a Lua ocupar um ângulo de meio grau no céu levou-o a calcular sua distância em 65 raios terrestres, em excelente acordo com o que sabemos hoje.
A precesão do eixo da Terra.
Hiparco, no segundo século antes de Cristo, através de um eclipse do Sol, desco¬briu o movimento de precessão dos equi¬nócios (SUPERINTERESSANTE ano 6, nº 3,). A partir de medidas feitas por outro grego, 150 anos antes, ele verificou que o Sol tinha mudado 2 gruas sua posição relativa à estrela Spica. Então, uma conta simples mostra que o Sol levaria 26000 anos para percorrer todo o céu (360 graus). Hoje se sabe que esse movimento é a precessão do eixo da Terra, que é da mesma natureza que o bamboleio de um pião, quando gira a baixa velocidade.
A quebra das esferas de cristal
Em 1610, Galileu descobriu que Júpiter tinha quatro luas – por isso chamadas galileanas – e que elas passavam por trás do planeta. Ele usou esses eclipses para demolir a concepção de que os astros giravam em torno da Terra, pregados em esferas de cristal.
As luas de Júpiter e a velocidade da luz.
Em 1675, depois de observar por longo tempo os eclipses de Io, a mais interna das luas galileanas, o dinamarquês Olaf Roemer verificou, muito surpreso, que eles não ocorriam a intervalos regulares. Deveria ser assim, já que os eclipses se repetem cada vez que o satélite dá uma volta em torno do planeta e mergulha em sua sombra. Em vez disso, à medida que Júpiter se afastava da Terra, os eclipses demoravam mais para começar. É que não havia atraso real: os eclipses demoravam a ser vistos porque a luz despendia tempo para cobrir a distância até a Terra. Por meio do atraso, Roemer obteve o primeiro valor aproximado da velocidade da luz.
As massas das estrelas
A maior parte das estrelas, ao contrário do Sol, consiste em uma dupla de astros que giram em torno de um centro comum. Nesse caso, ha eclipses regulares de uma estrela pela outra, uma situação ideal para se avaliar a massa, o raio ou a luminosidade desses corpos. Nos sistemas singulares, sem eclipse, esse conhecimento é muito mais limitado.
A curvatura do espaço-tempo.
Em 1919, foi possível fotografar estrelas próximas do Sol eclipsado e verificar que estavam fora da posição registrada à noite, quando seus raios não passavam nas vizinhança do Sol e não eram afetados por sua gravidade ( algumas fotos foram obtidas em Sobral, no Nordeste). Isso comprovou, pela primeira vez, a teoria da Relatividade. Entre muitos outros efeitos parecidos, descobertos nos últimos anos, um dos mais famosos é a Cruz de Einstein: uma galáxia inteira distorce a luz de um remoto quasar – uma galáxia-bebê- e gera nada menos que quatro imagens diversas do mesmo objeto.
Fonte: Super Interessante
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