Dentre os vários tipos de estrelas que conhecemos, este grupo se destaca por parecer não pertencente à região que habita. Obviamente as Blue Stragglers estão exatamente onde deveriam estar, mas antes de explicar o que são vamos relembrar um pouquinho de evolução estelar.
A cor de uma estrela é determinada pela medida de sua temperatura e sua massa – estrelas azuis são mais quentes que as vermelhas e muito massivas. Quanto mais maciça é uma estrela, mais rápido ela queima seu hidrogênio, e espera-se que as estrelas azuis passem menos tempo na sequência principal do que as estrelas vermelhas. Portanto, quando olhamos para um diagrama de magnitude de cor de um aglomerado globular (cujas estrelas-membro são todas formadas na mesma época), esperamos ver uma transição ordenada; estrelas que são mais azuis que um determinado valor (conhecido como turn off point) já deixaram a sequência principal, enquanto aquelas que são mais vermelhas ainda estarão nela, como demonstrado no diagrama HR abaixo.
Straggler significa retardatária, e há textos em português que chamam essas estrelas de Estrelas Retardatárias, eu usarei o termo em inglês pois é assim usado entre os astrônomos brasileiros. (Pronuncia-se BLU STREGLER , o primeiro e como em terra , o segundo e como no verbo ler.)
Blue stragglers são consideradas retardatárias porque já deveriam ter morrido e saído do diagrama HR, dada sua alta temperatura e grande massa, mas ainda estão lá. Elas foram descobertas por Allan Sandage em 1953 enquanto ele realizava a fotometria das estrelas do aglomerado globular M3 e se tornaram uma exceção à regra estabelecida até então.
Qual a explicação para que essas estrelas permaneçam na sequência principal além do esperado?
Atualmente acredita-se que uma possibilidade seja o fato de que em aglomerados, especialmente nos globulares, as estrelas estão muito próximas e é inevitável que aconteça interações entre elas. Veja o exemplo de aglomeração de estrelas na imagem Hubble do lindo aglomerado 47 Tucanae
Essa interação constante pode resultar na colisão de estrelas ou em canibalismo.
Uma estrela antiga do aglomerado, torna-se assim uma nova estrela muito mais massiva e quente, azul, e temos uma Blue Straggler.
Essas interações já foram detectadas por instrumentos e observações, mas ainda há mais a investigar, uma vez que algumas Blue Stragglers estudadas não tem companheira e não parecem ter passado por nenhum processo de acresção de matéria.
Mistérios a desvendar: isso é astronomia. Espero ter conseguido esclarecer o que é esse tipo intrigante de estrelas.
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