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sábado, 7 de julho de 2018

O VLT do ESO vê ‘Oumuamua acelerando


Novos resultados indicam que o nômade interestelar ‘Oumuamua é um cometa


Oumuamua, o primeiro objeto interestelar descoberto no Sistema Solar, está se afastando do Sol mais depressa do que o esperado. Este comportamento anômalo foi detectado por uma colaboração internacional astronômica que inclui o Very Large Telescope do ESO, no Chile. Os novos resultados sugerem que ‘Oumuamua é muito provavelmente um cometa interestelar e não um asteroide. A descoberta vai ser publicada na revista Nature.

‘Oumuamua — o primeiro objeto interestelar descoberto no seio do nosso Sistema Solar — tem sido sujeito a um intenso escrutínio desde a sua descoberta em Outubro de 2017. Agora, ao combinar dados do Very Large Telescope do ESO e outros observatórios, uma equipe internacional de astrônomos descobriu que o objeto está se deslocando mais depressa do que o previsto. O ganho medido em velocidade é pequeno e ‘Oumuamua ainda está desacelerando devido à atração do Sol — mas não tão rapidamente como o previsto pela mecânica celeste. 

A equipe liderada por Marco Micheli (Agência Espacial Europeia) explorou diversos cenários para explicar a velocidade mais elevada que este visitante interestelar peculiar apresenta. Pensa-se que o mais provável é que ‘Oumuamua esteja perdendo material da sua superfície devido ao aquecimento solar, algo conhecido por desgaseificação, e que seja este empurrão dado pelo material ejetado que dá origem ao impulso, pequeno mas constante, que faz com que o ‘Oumuamua esteja se afastando do Sistema Solar mais depressa do que o esperado — no dia 1 de Junho de 2018 o objeto deslocava-se a uma velocidade de aproximadamente 114 mil quilômetros por hora.

Tal desgaseificação é um comportamento típico dos cometas, contradizendo por isso a classificação anterior do ‘Oumuamua de asteroide interestelar. “Pensamos que este objeto se trata afinal de um estranho cometa minúsculo,” comenta Marco Micheli. “Através dos dados vemos que o seu “empurrão extra” está ficando mais fraco à medida que o objeto se afasta do Sol, o que é típico dos cometas.  Normalmente, quando os cometas são aquecidos pelo Sol, ejetam poeira e gases que formam uma nuvem de material, a chamada coma, em sua volta, além de uma cauda bastante caraterística. No entanto, a equipe de pesquisadores não conseguiu detectar nenhuma evidência visual de desgaseificação.

“Não observamos nem poeira, nem coma e nem cauda, o que é incomum,” explica a co-autora do trabalho Karen Meech, da Universidade do Hawai, EUA. Meech liderou a equipe que fez a descoberta inicial, na caraterização de ‘Oumuamua em 2017. “Pensamos que ‘Oumuamua possa estar liberando grãos de poeira anormalmente irregulares e grandes.”

A equipe especulou que talvez os pequenos grãos de poeira que se encontram geralmente na superfície da maioria dos cometas tenham sido erodidos durante a viagem de ‘Oumuamua pelo espaço interestelar, restando apenas os grãos maiores. Apesar de uma nuvem composta por estas partículas maiores não ser suficientemente brilhante para poder ser detectada, a sua presença poderia explicar a variação inesperada na velocidade de ‘Oumuamua.

Além do mistério da desgaseificação hipotética de ‘Oumuamua, temos ainda o mistério da sua origem interestelar. O intuito destas novas observações era determinar com exatidão o seu trajeto, o que teria provavelmente permitido obter o percurso do objeto até ao seu sistema estelar progenitor. Os novos resultados significam, no entanto, que será muito mais difícil obter esta informação.  A verdadeira natureza deste nômade interestelar enigmático poderá permanecer um mistério,” concluiu o membro da equipe Olivier Hainaut, astrônomo no ESO. “O recentemente descoberto aumento de velocidade de ‘Oumuamua torna mais difícil descobrir qual o caminho que o objeto tomou desde da sua estrela progenitora até nós.”

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