Atlas da Via Láctea e das galáxias vizinhas baseado nas observações do telescópio Gaia - ESA/AFP
O mapa astronômico mais detalhado já produzido até hoje, com 1,142 bilhão de estrelas da Via Láctea, foi divulgado nesta quarta-feira (14) pela Agência Espacial Europeia (ESA), com base nas observações de seu telescópio espacial Gaia. É o maior e mais preciso mapa já realizado da nossa galáxia”, disse o pesquisador Anthony Brown, da Universidade de Leiden, na Holanda, e diretor do centro de processamento de dados do projeto Gaia, em entrevista coletiva da ESA em Madri. Esse inventário impressionante inclui estrelas até meio milhão de vezes menos brilhantes do que aquelas que podemos ver a olho nu.
Ao todo, 450 astrônomos de 25 países participam desse projeto, que complementa os dados reunidos há 23 anos pela Hipparcos, outra missão astronômica da ESA. Lançada em 19 de dezembro de 2013, a sonda espacial Gaia orbita a Terra, enquanto observa o espaço dotada de dois telescópios – o segredo de sua espetacular precisão – e uma câmera fotográfica com 1 bilhão de pixels. A resolução é nítida o suficiente para medir o diâmetro de um fio de cabelo humano a uma distância de 1.000 quilômetros, disse Brown.
“Gaia está na vanguarda da astrometria, mapeando o céu com uma precisão jamais alcançada”, explicou o diretor científico da ESA, o espanhol Álvaro Giménez. A sonda mapeia a posição das estrelas na Via Láctea, que se estende por cerca de 100.000 anos-luz, e não somente identifica sua localização, como também traça seus movimentos, ao digitalizar cada estrela várias vezes. A publicação de hoje nos dá apenas uma primeira impressão da extraordinária quantidade de dados que nos esperam e que vão revolucionar nosso conhecimento sobre como as estrelas estão distribuídas e se movem em nossa galáxia”, descreveu Giménez.
Uma colheita de bilhões de estrelas - AFP
A enorme quantidade de dados que reuniu já permitiu elaborar esse catálogo com as posições de 1,142 bilhão de estrelas, ou seja, 200 milhões a mais do que havia sido previsto inicialmente. O objetivo final é completar o mapa celeste em 3D mais preciso até o momento. Além das mais de um bilhão de estrelas – uma mina de ouro para os astrônomos, mas apenas 1% da população estelar estimada da nossa galáxia -, o telescópio também mostra a trajetória de dois milhões delas. Ao longo da missão de cinco anos de Gaia, o catálogo de estrelas deverá se expandir em 500 vezes. Ao mesmo tempo, a sonda irá coletar dados sobre temperatura, luminosidade e composição química, de modo a compilar o que os astrônomos chamam de “carteira de identidade” de cada estrela individual.
Milhares de outros objetos não detectados anteriormente também foram descobertos, como asteroides, planetas que circundam estrelas próximas e supernovas.
– A origem da galáxia –
Após seu lançamento, há exatamente 1.000 dias, Gaia começou seu trabalho de observação em julho de 2014. Os dados divulgados nesta quarta-feira englobam os dados registrados nos 14 primeiros meses de trabalho, até setembro de 2015. A partir de agora, os astrônomos poderão consultar os dados sobre os diferentes corpos celestes, incluindo anãs brancas, estrelas variáveis e 2.152 quasares, os objetos mais afastados do Universo.Gaia não apenas nos fornece a posição das estrelas, mas também seu movimento, e isso também nos permite compreender melhor como nossa galáxia se formou”, explicou Antonella Vallenari, do Observatório de Pádua (Itália). A sonda permitirá, por exemplo, saber se nosso Sol foi criado de um “cluster”, um aglomerado de matéria. A posição e o movimento de 400 desses aglomerados já foram registrados por Gaia, lembrou Vallenari.
Mapa astronômico mais detalhado já produzido - ESA/AFP
Cerca de 2.500 desses – as incubadoras de novas estrelas – foram identificados na Via Láctea até agora, mas os cientistas suspeitam de que existem mais de 100.000, e a Gaia deve ser capaz de rastrear todos eles. Também se espera que a informação coletada permita saber mais acerca de um dos grandes enigmas do universo, a matéria escura. Os astrofísicos pretendem, ainda, testar a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, ao observar como a luz é desviada pelo Sol e por seus planetas.
Sentinela sempre alerta, Gaia também observa o movimento dos asteroides, caso sua trajetória constitua uma ameaça para a Terra. Gregory Laughlin, da Universidade de Yale, afirma que Gaia revelará à comunidade de astrônomos “milhares de novos mundos”, embora ainda precise completar seu trabalho de coleta. Sua missão de observação astronômica será concluída no fim de 2020. Um primeiro conjunto de estudos científicos baseados nos novos dados foi publicado nesta quarta em uma edição especial da revista Astronomy & Astrophysics. O lançamento de hoje “abre um novo capítulo na Astronomia” e certamente vai gerar centenas de outros estudos, disse François Mignard, membro da equipe de Gaia.
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