Para um ser humano, o universo pode parecer um lugar muito inóspito.
No vácuo do espaço, você iria sufocar rapidamente, enquanto na superfície de uma estrela você seria queimado como uma batata frita. E pelo que nós sabemos até agora, toda a vida está confinada a uma lasca de uma atmosfera em torno do planeta rochoso que habitamos. Mas, embora a origem da vida na Terra permaneça um mistério, há questões maiores para responder. Tipo: por que as leis da física permitem que qualquer vida exista em qualquer lugar que seja? Espera aí. As leis da física? Será que elas são universais e a vida só existe por conta delas? Lembre-se de que o universo é construído de peças fundamentais, partículas e forças, que são os blocos de construção de tudo o que vemos ao nosso redor. E nós simplesmente não sabemos por que essas peças têm as propriedades que têm. Há muitos fatos observacionais sobre o nosso universo, tais como elétrons que pesam quase nada, enquanto alguns de seus primos quarks são milhares de vezes mais maciços. Tem ainda a gravidade, incrivelmente fraca em comparação com as imensas forças que mantêm o núcleo atômico coeso. Por que o nosso universo é construído dessa maneira?
Isto significa que podemos fazer milhares de perguntas que começam com “e se..”. Estas suposições são de deixar qualquer um com frio na barriga. Por exemplo, e se o elétron fosse enorme e os quarks fossem fugazes? E se o eletromagnetismo fosse mais forte que a força nuclear? Em caso afirmativo, como seria o universo? Vamos considerar o carbono, um elemento forjado nos corações de estrelas massivas, e um elemento essencial para a vida como a conhecemos. Cálculos iniciais de tais fornalhas estelares mostraram que elas eram aparentemente ineficientes em fazer carbono. Em seguida, o astrônomo britânico Fred Hoyle percebeu que o núcleo do carbono possui uma propriedade especial, uma ressonância, que aumenta a eficiência em seu processo de produção. Mas se a intensidade da força nuclear do carbono fosse apenas uma fração diferente, ele não teria esta propriedade e deixaria o universo relativamente desprovido desse elemento – e, portanto, da nossa vida.
E a história não termina por aí.
Uma vez que o carbono é feito, ele está maduro para ser transmutado em elementos mais pesados, em especial de oxigênio. Acontece que o oxigênio, devido à intensidade de sua força nuclear, não tem as propriedades de ressonância particulares que aumentaram a eficiência da criação de carbono. Isto evita que todo o carbono seja consumido rapidamente. Quão inteligente o universo é? Isso resultou em um mundo com uma mistura quase igual de carbono e oxigênio, um bônus para a vida na Terra. Este é apenas um único exemplo. Nós também podemos brincar de “e se” com as propriedades de todos os dados fundamentais do universo. A cada mudança, podemos perguntar: “Como seria se isto fosse assim?”.
As respostas são bastante inusitadas.
A menor das mudanças resultaria em universos estéreis em termos de vida. Isso significa que o universo poderia ser sem graça, sem a complexidade necessária para armazenar e processar a informação central para a vida. Ou poderia se expandir muito rapidamente para a matéria se condensar em estrelas, galáxias e planetas. Qualquer vida complexa seria impossível em outras condições. É como se todas as variáveis do universo fossem uma grande loteria, e raríssimas combinações fossem premiadas com a vida. E, ao que tudo indica, nós somos os grandes vencedores – nosso bilhete estava acumulado. As perguntas não param por aí. Em nosso universo, nós vivemos com o conforto de uma certa mistura entre espaço e tempo, e uma estrutura matemática aparentemente compreensível que sustenta a ciência como a conhecemos. Nosso universo parece se equilibrar em uma faca de ponta de estabilidade. Mas por quê?
Para alguns, se nós descobrirmos qual é a “Teoria de Tudo”, unindo a mecânica quântica com a relatividade de Einstein, todos os mistérios desaparecerão. Para outros, isso é um pouco mais do que ilusão. Há ainda quem busque consolo em um criador, um ser onipotente que deixou muito bem afinadas as propriedades do universo que nos permitem estar aqui hoje, amém. Há, no entanto, uma outra solução possível, guiada pelos pensamentos obscuros e confusos na borda da ciência. As supercordas sugerem que as propriedades fundamentais do universo não são únicas, mas são de alguma forma escolhidas por algum rolo cósmico de dados quando ele nasceu. Isso nos dá uma possível explicação para as propriedades aparentemente especiais do universo em que vivemos: nós não somos o único universo, mas apenas um em um mar semi-infinito de universos, cada um com seu próprio conjunto peculiar de propriedades físicas, leis e partículas, vidas e estruturas, em última análise, matemáticas. Só que, se tivermos como base as estatísticas de que falamos antes, a grande maioria destes outros universos no multiverso global estão mortos e estéreis.
Porque estamos aqui?
A resposta que parece mais óbvia para esta pergunta é que nos encontramos em um universo propício para a nossa própria existência. Em qualquer outro universo, nós simplesmente não estaríamos por perto nem para perguntar por que não existimos. Se a teoria do multiverso estiver correta, temos de aceitar que as propriedades fundamentais do universo conspiraram para possibilitar a nossa existência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário