Impressão de artista do sistema HD 100546. Um planeta ainda no processo de formação pode estar a reforçar uma transferência de material da região exterior do disco protoplanetário, rica em gás, para as regiões mais interiores.
Crédito: David Cabezas Jimeno (SEA).
Astrónomos conseguiram ver através do "saco amniótico" de uma estrela ainda em formação para observar pela primeira vez a região mais interna de um sistema solar emergente. Num artigo científico publicado ontem na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, uma equipa internacional de astrónomos descreve descobertas surpreendentes nas suas observações da estrela mãe, HD 100546. O autor principal, Dr. Ignacio Mendigutía, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, afirma: "ninguém jamais foi capaz de sondar tão perto de uma estrela ainda em formação e que também tem pelo menos um planeta tão próximo".
"Fomos capazes de detetar pela primeira vez a emissão da região mais interna do disco de gás que rodeia a estrela central. Inesperadamente, esta emissão é semelhante à das estrelas jovens e 'estéreis' que não mostram quaisquer sinais de formação planetária ativa."Para observar este sistema distante, os astrónomos usaram o VLTI (Very Large Telescope Interferometer) no Chile. O VLTI combina o poder de observação de quatro telescópios (cada um com 8,2 m) e pode produzir imagens tão nítidas quanto um único telescópio com 130 metros de abertura. O professor Rene Oudmaijer, coautor do estudo, também da mesma universidade, comenta: "Considerando a grande distância que nos separa da estrela (325 anos-luz), o desafio foi parecido a tentar observar algo do tamanho de uma cabeça de alfinete a 100 km de distância."
Outra impressão de artista do sistema HD 100546, desta vez visto de mais longe. A inserção mostra a primeira imagem, com um planeta ainda no processo de formação e que poderá estar a transferir material do disco exterior para o disco interior.
Crédito: David Cabrezas Jimeno (SEA)
HD 100546 é uma estrela jovem (com apenas um milésimo da idade do Sol) rodeada por uma estrutura de gás e poeira em forma de disco, chamada "disco protoplanetário", no qual os planetas se podem formar. Estes discos são comuns em torno de estrelas jovens, mas o de HD 100546 é muito peculiar: se a estrela fosse colocada no centro do nosso Sistema Solar, a parte externa do disco estendia-se até cerca de dez vezes a órbita de Plutão. O Dr. Mendigutía explica: "Ainda mais interessante, o disco exibe uma lacuna desprovida de material. A abertura é muito grande, cerca de dez vezes o tamanho do espaço que separa o Sol da Terra. O disco interno de gás pode sobreviver por alguns anos antes de ficar preso na estrela central, por isso deve estar a ser reabastecido de alguma forma".
"Sugerimos que a influência gravitacional do planeta ainda em formação - ou possivelmente planetas - na lacuna pode estar a reforçar a transferência de material a partir da parte externa do disco, rica em gás, para as regiões interiores. Sistemas como HD 100546, que são conhecidos por terem tanto um planeta como uma abertura no disco protoplanetário, são extremamente raros. O único outro exemplo já descoberto é um sistema em que a abertura no disco está dez vezes mais distante da estrela central do que a abertura no sistema de HD 100546. "Com as nossas observações do disco interno de gás no sistema HD 100546, estamos começando a entender os primeiros momentos de estrelas que hospedam planetas numa escala comparável à do nosso Sistema Solar," conclui Oudmaijer.
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