Vida em luas geladas
Astrofísicos demonstraram que é possível fazer uma boa avaliação da existência de vida nas plumas de água ejetadas pela lua Encélado, de Saturno, sem precisar pousar.
Renderização artística destacando as plumas de gelo que de fato são ejetadas de Encélado a velocidades de até 1.300 quilômetros por hora - elas não são assim tão densas e visíveis na realidade. [Imagem: NASA]
A lua é apontada por alguns cientistas como o provável abrigo da vida extraterrestre mais próxima da Terra porque ela parece abrigar um oceano global por baixo de suas extensas camadas de gelo.
A ideia mais considerada até agora consiste em enviar uma sonda para pousar em Encélado e pesquisar seu oceano mergulhando nele, embora alguns especialistas apostem que uma sonda orbital pode mapear moléculas indicadoras de vida presentes nas famosas plumas que são continuamente ejetadas de sua superfície rumo ao espaço.
Mas Sally Burke e colegas da Universidade da Califórnia de San Diego acreditam que uma missão orbital pode fazer muito mais, efetivamente capturando amostras dessas plumas e analisando-as em laboratórios a bordo de uma nave - e isto é muito melhor do que usar espectroscopia ou outras técnicas para analisar as moléculas à distância.
Estas plumas proporcionam uma excelente oportunidade para recolher amostras e estudar a composição dos oceanos de Encélado e a sua potencial habitabilidade. No entanto, até agora não se sabia se a velocidade das plumas, somada à velocidade da própria sonda, fragmentaria quaisquer compostos orgânicos contidos nos grãos de gelo, degradando ou mesmo destruindo as amostras.
Burke demonstrou agora experimentalmente que eventuais aminoácidos transportados nestas plumas de gelo podem sobreviver a velocidades de impacto de até 4,2 km/s, o que viabiliza sua coleta e detecção por naves espaciais.
Esquema do experimento. [Imagem: Sally E. Burke et al. - 10.1073/pnas.2313447120]
Capturando vida sem destruí-la
O experimento começou com a imitação das plumas, criando grãos de gelo usando ionização por eletroaspersão, onde a água é empurrada através de uma agulha mantida em alta voltagem - a forte carga elétrica quebra a água em gotículas cada vez menores.
Depois de injetar as gotículas em uma câmara de vácuo, onde congelam, a equipe mediu sua massa e carga e, em seguida, usou detectores de imagem para observar os grãos enquanto voavam pelo espectrômetro. Um elemento-chave do experimento foi a instalação de um detector de íons, uma placa repleta de microcanais, para cronometrar com precisão o momento dos impactos com precisão de nanossegundos.
Os resultados mostraram que os aminoácidos - frequentemente chamados de blocos de construção da vida - podem ser detectados com fragmentação limitada até velocidades de impacto de 1.500 km/h (4,2 km/s).
Em 2024 a NASA planeja lançar a sonda espacial Europa Clipper para visitar outra lua, Europa, só que de Júpiter. Europa é outro mundo oceânico que possui uma composição gelada semelhante à de Encélado. Há esperança de que a Clipper ou quaisquer futuras sondas sejam capazes de identificar uma série específica de moléculas nos grãos de gelo, que possam apontar se existe vida nos oceanos subterrâneos dessas luas.
Mas as moléculas precisam sobreviver à sua rápida ejeção da lua e à coleta pela sonda. Agora sabemos que elas podem sobreviver, e isso pode fundamentar o desenvolvimento de instrumentos científicos específicos para futuras sondas.
"Para ter uma ideia de que tipo de vida pode ser possível no Sistema Solar, você quer saber se não houve muita fragmentação molecular nos grãos de gelo amostrados, para que você possa obter aquela impressão digital do que quer que seja que a torne uma forma de vida autocontida," disse o professor Robert Continetti. "Nosso trabalho mostra que isso é possível com as plumas de gelo de Encélado."
Fonte: Inovação Tecnológica
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