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domingo, 22 de maio de 2022

O buraco negro da Via Láctea foi o "grito de nascimento" da radioastronomia

 

À esquerda está uma imagem, pelo VLA (Very Large Array), da região central da Via Láctea. O ponto brilhante marcado pelo círculo é Sagitário A*, onde se encontra o buraco negro central da nossa Galáxia. À direita, a primeira imagem do buraco negro supermassivo no centro da nossa galáxia, a Via Láctea, traz a radioastronomia de volta ao seu local de nascimento celeste.Crédito: NRAO/AUI/NSF, Colaboração EHT

A primeira imagem do buraco negro supermassivo no centro da nossa Galáxia, a Via Láctea, traz a radioastronomia de volta ao seu local de nascimento celeste. O EHT (Event Horizon Telescope), uma coleção mundial de radiotelescópios de ondas milimétricas, fez a nova imagem marcante da mesma região da qual vieram as primeiras ondas de rádio cósmicas alguma vez detetadas. Essa deteção, pelo engenheiro dos Laboratórios Bell Telephone, Karl Jansky, em 1932, foi o início da radioastronomia. 

A nova imagem EHT é o culminar de uma longa história de investigação da Via Láctea, começando com Galileu Galilei, que usou o seu telescópio em 1610 para descobrir que a nossa Galáxia, que aparece como nuvens a olho nu, é na realidade composta por estrelas. Em 1785, o astrónomo britânico William Herschel produziu um mapa rudimentar da Via Láctea. 

Em 1918, o astrónomo americano Harlow Shapley localizou o centro da Via Láctea, utilizando a ferramenta de medição de distâncias recentemente descoberta, fornecida pelas estrelas variáveis cefeidas, para determinar que um halo de enxames globulares que rodeia a Via Láctea está centrado numa região na direção da constelação de Sagitário. Essa região é escondida dos telescópios óticos por nuvens espessas de gás e poeira. 

Jansky foi contratado pelos Laboratórios Bell em 1928 e encarregado de determinar as fontes de ruído que interferiam com as comunicações radiofónicas de ondas curtas. Concebeu uma antena altamente direcional e em 1932 tinha identificado uma série de fontes de ruído. No entanto, um mistério permaneceu - "um silvo estático e muito estável cuja origem não é conhecida." 

A hora do dia em que este silvo aparecia mudava com as estações. Por sugestão de um amigo astrónomo, Jansky consultou alguns livros de astronomia e em dezembro de 1932 concluiu que o estranho ruído vinha "de fora do Sistema Solar". Anunciou esta descoberta num artigo que apresentou numa reunião em Washington, D.C., em abril de 1933. O seu anúncio apareceu na primeira página do jornal New York Times a 5 de maio de 1933. 

Dez dias mais tarde, Jansky foi entrevistado numa rede de rádio nacional e disse ter localizado a posição, no céu, do ruído que havia encontrado e "isso parece confirmar o cálculo do Dr. Shapley de que as ondas de rádio parecem vir do centro de gravidade da nossa Galáxia." 

Essa região seria mais tarde chamada Sagitário A, como a mais brilhante fonte de emissão de rádio naquela constelação. Em 1951, os radioastrónomos australianos reduziram ainda mais a origem da emissão no centro da Galáxia. 

Em 1974, Bruce Balick e Robert Brown usaram o Interferómetro Green Bank do NRAO (National Radio Astronomy Observatory) para descobrir um objeto muito brilhante e compacto ao qual Brown juntou mais tarde o nome Sagitário A* (acrescentando o asterisco). Um buraco negro tornou-se a principal explicação para o que alimenta a emissão rádio do objeto, abreviado Sgr A*. Em 1994, estudos infravermelhos e submilimétricos estimaram a massa do objeto em 3 milhões de vezes a massa do Sol. 

Em 2002, uma equipa liderada por Reinhard Genzel do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre relatou um estudo de 10 anos do movimento orbital de uma estrela chamada S2 perto de Sgr A*. Esse estudo concluiu que o objeto central tem mais de 4 milhões de vezes a massa do Sol. 

Em 2009, outra equipa relatou mais observações de órbitas estelares na região e concluiu que o objeto central é provavelmente um buraco negro porque não se conhece nenhum outro fenómeno que possa "empacotar" tanta massa num espaço tão pequeno. Este trabalho e outros estudos de Sgr A* ganharam o Prémio Nobel da Física em 2020 para Genzel e Andrea Ghez da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) por terem produzido "a evidência mais convincente até à data de um buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea." 

A produção da Colaboração EHT de uma imagem consistente com as previsões teóricas do que deve ser visto em torno de um buraco negro torna o caso ainda mais convincente nos dias de hoje.

Fonte: Astronomia OnLine

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