Desde 2018, uma ideia que junta um universo cujo início se esconde atrás do Big Bang, partículas misteriosas e uma base teórica que poucos físicos entendem tem mexido com a imaginação de muita gente.
O responsável pelo "salseiro cósmico" na comunidade científica foi o físico do The Perimeter Institute Latham Boyle. Um artigo do qual ele é o autor principal sugere a existência de um universo-espelho, o que preencheria as lacunas que continuam sem resposta na teoria para a existência do cosmos: a Lambda-Cold Dark Matter (LCDM).
Uma pilha de espaço e tempo
A ideia central da teoria de Boyle é simplificar a maneira como olhamos para trás, no tempo e no espaço. Imagine que o HOJE é um grande aro e abaixo dele há um aro menor, o do ONTEM e, deste, o do ANTEONTEM.
Cada vez mais os aros encolhem de tamanho à medida que você conta os dias para trás. Você acabará com uma pilha imensa de aros — um cone no qual a sua ponta está o momento zero: o Big Bang.
Os telescópios não podem ver nada antes do CMB (nem mesmo a singularidade que deu origem a tudo) e onde a LCDM termina. Portanto, os modelos cosmológicos atuais vão um pouco mais longe, mas param no Big Bang.
Simétrico, mas nem tanto
Boyle propôs espiar além, mesmo que o outro cosmos esteja muito longe no espaço-tempo para que possamos vê-lo. Para isso, ele usou um princípio caro à Física: a paridade. Na física de partículas, o espelhamento de carga, a paridade e o tempo (simetria de CPT) deveriam ser respeitados em todos os processos subatômicos.
Uma experiência realizada em 1956 pela física Chien-Shiun Wu mostrou que isso não acontece. O modelo de Boyle restaurou e preservou a simetria do Universo ao criar um segundo cone para o espaço-tempo, e o resultado de uma pesquisa na Antártida reforçou sua ideia.
O último de três destros
Os três tipos de neutrinos conhecidos são “canhotos” e sem parceiros "destros", o que contraria a simetria de CPT. Na cosmologia de Boyle, havia neutrinos parceiros destros em nosso universo para os neutrinos canhotos, mas dois deles se perderam há muito no espaço-tempo.
O terceiro neutrino "destro" sobreviveu e teria uma assinatura de energia específica (480 PeV) e seria o responsável pela matéria escura que falta no universo. O astrofísico John Learned, da Universidade do Havaí, e coautor de um artigo baseado na teoria de Boyle disse: “Os detalhes de como o universo simétrico da CPT leva a um neutrino de 480 PeV são tão complicados que poucos físicos os entendem”.
O rastro dessa partícula foi captado em 2018, e não uma vez, mas duas. Ele foi apanhado pelo Antarctic Impulsive Transient Antenna (ANITA), um detector de partículas suspenso sobre a Antártida. Learned, envolvido com o projeto patrocinado pela NASA, percebeu que o neutrino de 480 PeV condizia com as descobertas da ANITA.
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