A anã branca WD 1425+540 faz parte de um sistema duplo, e está a cerca de 170 anos-luz da Terra, na constelação de Boötes, ou Boieiro. Um graupo de astrônomos observou rastros de um cometa que foi destruído por ela, sendo essa a primeira observação de um desses objetos em órbita de uma anã branca.
O cometa tinha composição química semelhante à do famoso cometa Halley, que é observado facilmente da Terra a cada 76 anos, aproximadamente. Apesar da semelhança química, o cometa destruído era 100 mil vezes mais massivo que o Halley e tinha duas vezes sua proporção de água, em relação ao material rochoso.
O Halley pertence ao Sistema Solar, gira em torno do Sol, e não tem nada a ver com a WD 1425+540. Mas observar a química semelhante confirma a ideia de que as condições que deram origem à vida por aqui devem se repetir abundantemente pelo Universo: análise espectral revelou que o cometa era rico em elementos essenciais à vida, como carbono, oxigênio, enxofre e nitrogênio. Também foram observados cálcio, magnésio e hidrogênio.
Essa foi também a primeira vez que se observou nitrogênio em material caindo em uma anã branca. Um dos autores do trabalho, Siyi Xu, do European Southern Observatory, disse:
“Nitrogênio é um elemento muito importante para vida como a conhecemos. Esse objeto em particular é bastante rico em nitrogênio, mais que qualquer outro objeto observado em nosso Sistema Solar.”
Me chamou a atenção nessa declaração de Siyi Xu o fato dele mencionar delicadamente que só podemos falar sobre a química necessária para vida como a conhecemos. Entendo isso como o reconhecimento, muito correto, da possibilidade de existência de vida cuja natureza química desconheçamos.
A observação nos traz também questões sobre a mecânica e a estrutura do sistema como um todo. Esse foi o primeiro cometa observado em uma anã branca mas não o primeiro objeto… Existem várias observações de corpos rochosos, do tipo de asteroides – sem gelo -, orbitando anãs brancas, o que sugere a existência de uma estrutura semelhante ao Cinturão de Kuiper no Sistema Solar: em regiões distantes do centro, um cinturão de objetos sólidos, pequenos e gelados. Esses objetos gelados aparentemente sobreviveram à evolução da estrela, originalmente semelhante ao Sol, que depois virou uma gigante vermelha e colapsou em uma pequena e densa anão branca.
E o grupo de astrônomos especula ainda sobre o quê poderia ter tirado o cometa de sua órbita original, distante, e levá-lo até a colisão. Isso pode ter acontecido devido à influência gravitacional de planetas ainda não observados que estariam ali orbitando a anã branca; ou à influência causado pela companheira da anã branca nesse cinturão, fazendo com que o cometa viajasse em direção à região central do sistema. O mais provável é que tenha havido uma combinação desses dois fatores.
Essa observação nos lembra também que estudar coisas aqui perto nos leva a compreender coisas distantes. Já que a química de outros sistemas é semelhante à química daqui, compreendendo a química do Sistema Solar estaremos aptos a especular algumas coisas sobre planetas se formaram lá e detectar sistemas mais prováveis de abrigar vida. Como conhecemos, claro.
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