Pela primeira vez, astrônomos observaram uma estrela de rotação rápida que emite luz polarizada, um fenômeno que foi previsto há mais de 50 anos, mas que, até então, esquivava-se de nossos instrumentos e fugia à observação humana. Com base nessas descobertas, eles finalmente confirmaram a taxa de giro maluca de Regulus – uma das estrelas mais brilhantes que podemos ver a partir do nosso planeta.
Luz polarizada
Para entender qual é o grande problema aqui, precisamos desviar um pouco o assunto e entender o que é, de fato, a luz polarizada.
Normalmente, as ondas de luz viajam em qualquer direção, batendo e saltando sobre objetos ao nosso redor (e é por isso que podemos enxergar as coisas com nossos olhos). Mas as ondas de luz também podem ser polarizadas, o que significa que todas elas giram em uma determinada direção.
Em 1968, uma dupla de astrônomos, J. Patrick Harrington e George W. Collins II, previram que uma estrela que gira rapidamente emitiria luz polarizada. Em sua rotação incomum, sua forma é distorcida para um formato achatado nos pólos, como se estivesse esmagada.
Mas, enquanto essas ideias sugeridas há mais de 50 anos induziram a criação de uma série de instrumentos destinados a detectar a polarização no espaço interestelar, até agora os astrônomos não haviam realmente capturado a polarização de uma estrela que gira rapidamente.
Agora, uma equipe internacional da Austrália, dos EUA e do Reino Unido fez exatamente isso, graças a um polarímetro altamente sensível desenvolvido na Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) em Sydney.
“O Instrumento Polarimétrico de Alta Precisão, HIPPI, é o polarímetro astronômico mais sensível do mundo”, diz um dos integrantes da equipe, o astrônomo Daniel Cotton da UNSW.
Procedimento
A equipe apontou o HIPPI a Regulus, uma estrela de primeira magnitude e azulada a 79 anos-luz de distância da Terra. Está localizada na constelação de Leo e classificada como a 22ª estrela mais brilhante no céu noturno.
Anteriormente, os astrônomos extrapolaram sua taxa de rotação com base em modelos calculados para outras estrelas desse tipo. Mas eles não conseguiram confirmar esta interpretação antes de garantir mais observações diretas sobre o giro de Regulus.
Agora, graças a esta primeira detecção de luz polarizada de uma estrela que gira rapidamente, sabemos que Regulus está realmente rodando feito uma maluca a uma velocidade de 320 quilômetros por segundo (199 milhas por segundo). Isso é tão rápido que a estrela está basicamente à beira de se explodir rumo ao espaço.
“Nós achamos que o Regulus está girando tão rapidamente que está perto de voar para longe, com uma taxa de rotação de 96,5 por cento da velocidade angular para ruptura”, diz Cotton.
Avanço da ciência
Esta nova medida é útil não apenas para entender o próprio Regulus. Ela está abrindo novos caminhos para que possamos revelar novos detalhes de algumas das estrelas maiores e mais quentes lá fora, permitindo-nos descobrir mais sobre seus ciclos de vida.
“Anteriormente, o campo foi amplamente restrito ao estudo de material externo às estrelas ou àquelas com campos magnéticos extremos”, escreve a equipe no estudo. “Agora somos capazes de investigar os parâmetros fundamentais da própria atmosfera estelar”.
As descobertas foram publicadas em Nature Astronomy.
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