A Via Láctea é mais rápida, tem massa maior e corre maior risco de colisão do que se imaginava. Segundo um novo estudo, feito por um grupo internacional de cientistas, a velocidade de rotação da galáxia é aproximadamente 165 mil quilômetros por hora superior à estimada em medidas anteriores.
A diferença de velocidade é suficiente para fazer com que a massa seja 50% maior, aproximando-a ainda mais da vizinha galáxia de Andrômeda, segundo a pesquisa apresentada no 213º encontro da Sociedade Astronômica dos Estados Unidos, em Long Beach, na Califórnia, que termina no dia 8.
“Deixaremos de pensar na Via Láctea como a irmãzinha de Andrômeda em nosso grupo local”, disse Mark Reid, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, que apresentou o trabalho nesta segunda-feira (5/1).
A maior massa implica um empuxo gravitacional superior, que, por sua vez, aumenta a chance de colisões com a galáxia de Andrômeda ou com outras menores.
O Sistema Solar está a cerca de 28 mil anos-luz do centro da Via Láctea. Segundo as novas observações, o sistema se desloca a cerca de 990 mil km/h na órbita galáctica, mais do que a velocidade estimada até então, de 825 mil km/h.
Os cientistas estão usando o Very Long Baseline Array (VLBA), um sistema de dez radiotelescópios distribuídos do Havaí ao Caribe capaz de produzir imagens extremamente detalhadas, para refazer o mapa da Via Láctea.
“As novas observações com o VLBA têm resultado em medidas diretas de distâncias e de movimentos altamente acuradas. Diferentemente de estudos anteriores, essas medidas usam o método tradicional de triangulação e não dependem de qualquer tipo de inferência baseada em outras propriedades, como brilho”, disse Karl Menten, do Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, outro autor da pesquisa.
“Essas medidas diretas têm alterado nossa compreensão da estrutura e dos movimentos de nossa galáxia. Por estarmos dentro dela, é difícil determinar sua estrutura. Em outros casos, temos que simplesmente olhar, mas não podemos fazer isso para a Via Láctea: é preciso medi-la e mapeá-la”, disse Menten.
Os cientistas observaram na galáxia regiões de grande formação de estrelas. Em áreas dentro dessas regiões moléculas de gases ampliam as emissões de rádio, de forma semelhante à que os lasers ampliam os raios de luz. Essas áreas, chamadas masers cósmicos, servem como pontos de referência luminosos para as medidas feitas com o VLBA.
Ao observar essas regiões repetidamente, quando a Terra está em lados opostos de sua órbita em torno do Sol, os astrônomos são capazes de medir a pequena alteração aparente na posição dos objetos em relação ao plano de fundo de objetos mais distantes.
Quatro braços
O VLBA é capaz de fixar posições no céu de modo tão exato que o movimento real dos objetos pode ser detectado à medida que eles orbitam o centro da Via Láctea. Ao adicionar medidas de movimentos ao longo da linha de visão, determinadas a partir de alterações na frequência da emissão de rádio de masers, os astrônomos podem determinar os movimentos completos, em três dimensões, das regiões que formam estrelas.
“A maior parte das regiões que formam estrelas não segue um caminho circular à medida que orbita a galáxia. Em vez disso, verificamos que elas se movem mais lentamente do que outras regiões e em órbitas não circulares, mas elípticas”, afirmou Reid.
Segundo os autores do estudo, isso pode ser atribuído às chamadas ondas de choque de densidade espiral, que acumulam gases em órbitas circulares, comprimem esses gases para formar estrelas e fazem com que eles entrem em uma órbita nova e elíptica. Isso ajudaria a reforçar a estrutura espiral.
Ao medir as distâncias de regiões múltiplas em um único braço espiral da Via Láctea, os cientistas conseguiram calcular o ângulo do braço. “As medidas obtidas indicam que nossa galáxia tem não dois, mas quatro braços espirais de gases e poeira que estão formando estrelas”, disse Reid.
Recentes estudos conduzidos a partir de observações com o telescópio espacial Spitzer apontaram que as estrelas mais velhas residem em dois braços espirais, o que levanta a questão de por que elas não estão em todos os braços. De acordo com os autores do novo estudo, para responder a essa pergunta será preciso fazer mais medidas e ter uma compreensão maior do funcionamento da Via Láctea.
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