Primeiro, não existe uma foto do Universo. Qualquer foto que você encontrar terá apenas uma pequena parte do Universo registrada.
Segundo, em alguns casos, o que temos é uma representação que pode ou não ser artística. De qualquer forma, sempre que você ver uma foto onde está indicado com uma seta onde nós estamos, pode ter certeza que é uma representação, não uma foto.
Depende do que considerares cor verdadeira. No fundo a generalidade daquilo que consegues ver no céu é escuro… mas se tirares uma foto com exposições cada vez mais altas enquanto segues o alvo com precisão consegues obter mais detalhe.
Nebulosa de Orion:
Isto até podes considerar cor verdadeira, mas, no fundo já leva uma séries de processos para ficar assim. São múltiplas subs, calibradas, alinhadas, somadas e alguma remoção de ruído.
Só para ficarem com uma ideia do processo completo, deixo dois vídeos:
Com outro telescópio (e até notas os desalinhamentos da câmera nos limites):
E com o mesmo telescópio, a mesma câmera, mas em condições de poluição luminosa diferentes (e rastos de satélites)…
Todas estas são cores reais, captadas por um sensor a cores, que no fundo é um sensor monocromático com pixeis vermelho, verde e azul. Isto é o chamado de CFA (color filter array) ou Bayer filter.
Mas, o que é que isto efectivamente faz? Cada pixel de cor ocupa efectivamente 4 pixeis reais. Ou seja, sacrificas 4x a resolução para teres uma imagem a cor instantânea. Um desperdício, tendo em conta que vais sempre tirar várias fotos a um alvo estático para conseguires obter informação suficiente que te dê informação que possas trabalhar para ter uma imagem final.
Ora, entram os sensores monocromáticos. Estes são apenas a camada de baixo da imagem acima.
Não é tão apelativa. Pelo menos enquanto não lhe colocares filtros em cima.
Agora, tu podes simplesmente colocar o mesmo tipo de filtros que a existe numa CFA comum. Tiras as fotos com um, trocas, tiras com outro, trocas e tiras com outro… depois pegas no resultado tratas e juntas atribuindo o canal correcto a cada um dos grupos.
Mas a realidade é que praticamente todos estes objectos têm conjuntos de emissões específicas e muitas dessas emissões tendem para teres as mesmas cores independentemente de serem emissões diferentes. O olho humano não é muito bom a distingui-las. E, já que temos um filtro monocromático, porque não delimitar as emissões a determinadas bandas curtas e depois atribuir-lhe um canal de cor que o ser humano consiga interpretar?
E aqui tens as cores “falsas”. Mas só são “falsas” porque não as conseguimos ver assim. Se conheceres os canais consegues saber os diferentes tipos de emissões que estão aqui.
Também podes utilizar os mesmos dados com diferentes canais:
No fundo, o que tens é uma representação dos dados de forma a que permitam ver o que nós não conseguimos de forma a que nos seja possível ver aquilo que os nossos olhos não nos permitem distinguir.
As fotos com cor “real” continuam a existir por aí. Não são todas feitas com filtros de banda curta. Novo exemplo:
Tens coisas que são praticamente impossíveis de obter apenas com cor, como é o caso desta nebulosa da Cassiopeia:
Logo nem tudo é simplesmente fotografável com uma câmera comum e um telescópio. De facto, não há propriamente nada de comum que seja directamente equiparável com a fotografia do dia-a-dia nisto:
E o resultado final, por vezes também leva alguns ajustes pessoais:
A cor adicional não retira valor à imagem. Nem sequer é suposto ser para enganar ninguém. No caso das fotos de banda curta, o objectivo é mesmo permitir superar as limitações do ser humano.
Outras vezes, pode ser simplesmente abuso de cor 😅
E, BTW, mesmo com câmeras a cor, a maioria dos astrofotografos amadores também utiliza filtros. Filtros esses que servem para ajudar a reduzir bastante os efeitos da poluição luminosa das cidades, que resultam em coisas como esta:
A cor do céu parece bastante artificial… porque é. O céu está com um nível de poluição luminosa elevado e isto é o resultado sem filtros e sem qualquer tratamento. Podes considerar que o facto de se estar a colocar um filtro para se eliminar as gamas de luz provenientes da iluminação artificial terrestre é uma forma de manipulação, mas há muita gente que nunca iria conseguir tirar fotos ao céu sem o fazer.
Como disclaimer final, todas as fotos e vídeos presentes no post, com excepção da representação do CFA (que é da Wikipédia), são da minha autoria. Espero que apreciem, apesar do meu skill ser mediano ou mesmo abaixo nos círculos de amadores-profissionais.
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