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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Uma estrela jovem parecida com o Sol pode conter avisos para a vida na Terra

 

 Impressão de artista da estrela EK Draconis a libertar uma ejeção de massa coronal, com dois planetas em órbita. Crédito: NAOJ

Espiando um sistema estelar localizado a dúzias de anos-luz da Terra, os astrónomos observaram, pela primeira vez, "fogos-de-artifício" preocupantes: uma estrela chamada EK Draconis ejetou uma quantidade gigantesca de energia e partículas carregadas num evento muito mais poderoso do que qualquer evento do género já visto no nosso próprio Sistema Solar. 

Os investigadores publicaram os seus resultados dia 9 de dezembro na revista Nature Astronomy. 

O estudo explora um fenómeno estelar denominado "ejeção de massa coronal", também conhecido como tempestade solar. Yuta Notsu, da Universidade do Colorado em Boulder, EUA, explicou que o Sol emite este tipo de erupções regularmente. São compostas por nuvens de partículas extremamente quentes, ou plasma, que podem viajar pelo espaço a velocidades de milhões de quilómetros por hora. E são potencialmente más notícias: se uma ejeção de massa coronal atingir a Terra, pode danificar satélites em órbita e afetar as redes de energia que servem cidades inteiras. 

"As ejeções de massa coronal podem ter um sério impacto na Terra e na sociedade humana," disse Notsu, investigador associado no LASP (Laboratory for Atmospheric and Space Physics) da universidade supramencionada e do Observatório Solar Nacional da NSF (National Science Foundation) dos EUA. 

O novo estudo, liderado por Kosuke Nakemata do NAOJ (National Astronomical Observatory of Japan) - ex-académico visitante da Universidade do Colorado em Boulder - também sugere que as explosões podem ficar muito piores. 

Na investigação, Namekata, Nostu e colegas usaram telescópios no solo e no espaço para espiar EK Draconis, que parece uma versão jovem do Sol. Em abril de 2020, a equipa observou EK Draconis a ejetar uma nuvem de plasma escaldante com uma massa na casa dos mil biliões de quilogramas - mais de 10 vezes maior do que a ejeção de massa coronal mais poderosa já registada numa estrela parecida com o Sol. 

O evento pode servir como um aviso de quão perigoso pode ser o clima espacial. 

"Este tipo de ejeção de grande massa poderia, teoricamente, também ocorrer no nosso Sol," disse Notsu. "Esta observação pode ajudar-nos a entender melhor como eventos semelhantes podem ter afetado a Terra e até mesmo Marte ao longo de milhares de milhões de anos." 

Notsu explicou que as ejeções de massa coronal geralmente ocorrem logo depois que uma estrela liberta uma proeminência, ou uma explosão repentina e brilhante de radiação que pode estender-se para o espaço. 

No entanto, investigações recentes sugeriram que, no Sol, esta sequência de eventos pode ser relativamente tranquila, pelo menos no que diz respeito às observações dos cientistas. Em 2019, por exemplo, Notsu e colegas publicaram um estudo que mostrou que jovens estrelas semelhantes ao Sol, na Galáxia, parecem ter superproeminências frequentes - como as nossas próprias proeminências solares, mas dezenas ou até centenas de vezes mais poderosas. 

Tal superproeminência também pode ocorrer no Sol, mas não com muita frequência, talvez uma vez a cada vários milhares de anos. Ainda assim, deixou a equipa de Notsu curiosa: uma superproeminência também poderia levar a uma superejeção de massa coronal? 

"As superproeminências são muito maiores do que as proeminências que vemos do Sol," disse Notsu. "Portanto, suspeitamos que também produziriam ejeções de massa muito maiores. Mas, até recentemente, isto era apenas conjuntura." 

Para descobrir, os investigadores voltaram-se para EK Draconis. A curiosa estrela, explicou Notsu, tem quase o mesmo tamanho que o nosso Sol mas, com apenas 100 milhões de anos, é relativamente jovem no sentido cósmico. 

"O nosso Sol era assim há 4,5 mil milhões de anos," disse Notsu. 

Os investigadores observaram a estrela durante 32 noites no inverno e na primavera de 2020 usando o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA e o telescópio SEIMEI da Universidade de Quioto. E, no dia 5 de abril, Notsu e colegas tiveram sorte: os investigadores observaram em EK Draconis a libertação de uma superproeminência, uma realmente grande. Cerca de 30 minutos depois, a equipa observou o que parecia ser uma ejeção de massa coronal a voar para longe da superfície da estrela. Os investigadores foram capazes de capturar apenas a primeira etapa da vida deste fenómeno, chamada fase de "erupção do filamento". Mas, mesmo assim, era um monstro, movendo-se a uma velocidade máxima de 1,6 milhões de quilómetros por hora.

 Também pode não ser um bom presságio para a vida na Terra: os achados da equipa sugerem que o Sol também pode ser capaz de tais eventos extremos. Mas, felizmente, e tal como as superproeminências, as superejeções de massa coronal são provavelmente raras para estrelas com a idade do nosso Sol. 

Ainda assim, Notsu notou que grandes ejeções de massa podem ter sido muito mais comuns nos primeiros anos do Sistema Solar. Por outras palavras, as ejeções gigantescas de massa coronal podem ter ajudado a moldar planetas como a Terra e Marte. 

"A atmosfera atual de Marte é muito fina comparada com a da Terra," disse Notsu. "Pensamos que Marte teve no seu passado uma atmosfera muito mais espessa. As ejeções de massa coronal podem ajudar-nos a entender o que aconteceu com o planeta ao longo de milhares de milhões de anos."

Fonte: ccvalg.pt

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