Impressão artística do planeta potencialmente habitável Kepler-442b (esquerda), em comparação com a Terra. Crédito: Ph03nix1986 / Wikimedia Commons
Uma nova análise de exoplanetas conhecidos revelou que as condições semelhantes às da Terra em planetas potencialmente habitáveis podem ser muito mais raras do que se pensava anteriormente. O trabalho foca-se nas condições necessárias para que a fotossíntese com base no oxigénio se desenvolva num planeta, o que possibilitaria biosferas complexas do tipo encontrado na Terra. O estudo foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
O número de planetas confirmados na nossa própria Galáxia, a Via Láctea, chega agora aos milhares. No entanto, os planetas semelhantes à Terra e na zona habitável - a região em torno de uma estrela onde a temperatura é ideal para a existência de água líquida à superfície - são muito menos comuns.
De momento, apenas são conhecidos alguns destes exoplanetas rochosos e potencialmente habitáveis. No entanto, a nova investigação indica que nenhum deles tem as condições teóricas para sustentar uma biosfera semelhante à da Terra por meio da fotossíntese "oxigénica" - o mecanismo que as plantas na Terra usam para converter luz e dióxido de carbono em oxigénio e nutrientes.
Apenas um destes planetas chega perto de receber a radiação estelar necessária para sustentar uma grande biosfera: Kepler-442b, um planeta rochoso com cerca de duas vezes a massa da Terra, orbitando uma estrela moderadamente quente a cerca de 1200 anos-luz de distância.
O estudo analisou em detalhe quanta energia da sua estrela hospedeira é recebida por um planeta, e se os organismos vivos seriam capazes de produzir com eficiência nutrientes e oxigénio molecular, ambos elementos essenciais para a vida complexa como a conhecemos, por meio da fotossíntese oxigénica normal.
Ao calcular a quantidade de radiação fotossinteticamente ativa que um planeta recebe da sua estrela, a equipa descobriu que as estrelas com cerca de metade da temperatura do nosso Sol não podem sustentar biosferas semelhantes à da Terra porque não fornecem energia suficiente na gama correta de comprimentos de onda. A fotossíntese oxigénica ainda seria possível, mas tais planetas não poderiam sustentar uma biosfera rica.
Planetas em torno de estrelas ainda mais frias, conhecidas como anãs vermelhas, que "ardem" com aproximadamente um-terço da temperatura do nosso Sol, não podiam receber energia suficiente para nem mesmo ativar a fotossíntese. As estrelas que são mais quentes que o nosso Sol são muito mais brilhantes e emitem até dez vezes mais radiação na gama necessária para uma fotossíntese eficaz do que as anãs vermelhas; no entanto, geralmente não vivem o suficiente para a evolução de vida complexa.
"Uma vez que as anãs vermelhas são, de longe, o tipo mais comum de estrela na nossa Galáxia, este resultado indica que condições semelhantes à Terra, noutros planetas, podem ser muito menos comuns do que poderíamos esperar," comenta o professor Giovanni Covone da Universidade de Nápoles, autor principal do estudo.
Ele acrescenta: "Este estudo impõe fortes restrições ao espaço de parâmetros para a vida complexa, de modo que, infelizmente, parece que o 'ponto ideal' para hospedar uma biosfera semelhante à da Terra não é tão amplo."
Futuras missões como a do Telescópio Espacial James Webb, com lançamento previsto para o final deste ano, terão a sensibilidade para observar mundos distantes em torno de outras estrelas e lançar uma nova luz sobre o que realmente é necessário para um planeta hospedar vida como a conhecemos.
Fonte: Astronomia OnLine
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