A sonda MESSENGER (MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry, and Ranging) viajou durante mais de seis anos e meio antes de entrar em órbita de Mercúrio no dia 18 de março de 2011. Crédito: NASA/JHU APL/Instituto Carnegie de Washington
Depois de descobertas científicas e inovações tecnológicas extraordinárias, uma sonda da NASA lançada em 2004 para estudar Mercúrio vai impactar a superfície do planeta, muito provavelmente no dia 30 de abril, quando ficar sem combustível. A Sonda MESSENGER (MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry, and Ranging) vai colidir com a superfície do planeta a mais de 3,91 km/s no lado do planeta oposto à Terra. Devido ao local esperado, os engenheiros não serão capazes de ver em tempo real a localização exata do impacto. Na semana passada, os operadores da missão no Laboratório de Física Aplicada (APL) da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland, completaram o quarto numa série de manobras de correção orbitais destinadas a retardar o impacto da sonda na superfície de Mercúrio.
A última manobra está agendada para sexta-feira, dia 24 de abril. Após esta última manobra, vamos finalmente declarar a sonda sem combustível, pois esta manobra gastará praticamente todo o nosso gás hélio," afirma Daniel O'Shaughnessy, engenheiro de sistemas da missão. "Nesse momento, a sonda não será mais capaz de combater o empurrão da gravidade do Sol. Apesar de Mercúrio ser um dos vizinhos planetários mais próximos da Terra, pouco se sabia sobre o planeta antes da missão da MESSENGER. "Pela primeira vez na história temos conhecimento real sobre o planeta Mercúrio, que mostra ser um mundo fascinante como parte do nosso Sistema Solar diversificado," afirma John Grunsfeld, administrador associado do Diretorado de Missões Científicas na sede da NASA em Washington.
Embora as operações terminem, estamos a celebrar a MESSENGER como mais do que uma missão bem-sucedida. É o início de uma longa jornada para analisar os dados que, esperamos, revelarão todos os mistérios científicos de Mercúrio. A sonda viajou durante mais de seis anos e meio antes de entrar em órbita de Mercúrio no dia 18 de março de 2011. A missão principal era orbitar o planeta e recolher dados durante um ano terrestre. A boa saúde da sonda, o combustível restante e as novas questões levantadas pelas descobertas iniciais resultaram na aprovação de dois prolongamentos das operações, permitindo com que a missão continuasse durante quase quatro anos e resultando em mais marcos científicos. Uma descoberta chave em 2012 prestou um apoio convincente à hipótese que Mercúrio abriga água gelada abundante e outros materiais voláteis nas suas crateras polares permanentemente à sombra.
Os dados indicaram que o gelo nas regiões polares de Mercúrio, casso estivesse espalhado numa área equivalente a uma grande cidade, teria uma espessura superior a 3 km. Pela primeira vez, os cientistas começaram a ver claramente um capítulo na história de como os planetas interiores, incluindo a Terra, adquiriram água e alguns dos blocos químicos de construção da vida. Uma camada escura que cobre a maioria dos depósitos de água gelada suporta a teoria que compostos orgânicos, assim como a água, foram entregues a partir do Sistema Solar exterior até aos planetas interiores e tal pode ter levado à síntese química pré-biótica e, desta forma, à vida na Terra.
"A água, agora armazenada em depósitos de gelo no chão de crateras de impacto permanentemente à sombra nos polos de Mercúrio, foi provavelmente entregue ao planeta mais interior por impactos de cometas e asteroides ricos em voláteis," comenta Sean Solomon, investigador principal da missão e diretor do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia em Palisades, Nova Iorque. "Esses mesmos impactos também provavelmente forneceram o material orgânico escuro."
Além das descobertas científicas, a missão proporcionou muitos marcos tecnológicos, incluindo o desenvolvimento de um guarda-sol cerâmico vital, resistente ao calor e altamente refletivo que isolou os instrumentos e os componentes eletrónicos da sonda da radiação solar direta - cruciais para o sucesso da missão dada a proximidade de Mercúrio ao Sol. A tecnologia vai ajudar a informar os projetos futuros para missões planetárias dentro do nosso Sistema Solar. O lado frontal do guarda-sol rotineiramente acusava temperaturas superiores a 300º Celsius, ao passo que a maioria dos componentes à sombra operava perto da temperatura ambiente (20º C)," explica Helene Winters, gestora do projeto da missão no APL. "Esta tecnologia que protegeu os instrumentos da MESSENGER foi a chave para o sucesso da missão durante a operação principal e durante as estendidas."
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