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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Rochas da Lua revelam segredos incríveis sobre um planeta que desapareceu

 Há cerca de 4,5 bilhões de anos, quando o Sistema Solar ainda era muito jovem e caótico, um planeta em formação do tamanho de Marte, chamado Theia, colidiu violentamente com a Terra primitiva

Imagem via NASA

Esse impacto gigantesco foi provavelmente o evento mais importante de toda a história do nosso planeta. Ele mudou o tamanho da Terra, a sua estrutura interna, a forma como ela gira em torno do Sol e, o mais impressionante, deu origem à Lua, que desde então acompanha a Terra como uma fiel companheira.

Por muito tempo os cientistas se perguntaram: como era exatamente esse planeta Theia antes da colisão? Qual era o seu tamanho, do que ele era feito e de onde ele veio? O próprio Theia foi completamente destruído no choque, mas pedaços da sua “identidade química” ficaram misturados tanto na Terra quanto na Lua. Agora, um estudo novo, publicado no dia 20 de novembro de 2025 na revista Science, conseguiu usar essas pistas que sobraram para reconstruir como provavelmente era Theia e de que parte do Sistema Solar ela nasceu.

Os pesquisadores, do Instituto Max Planck de Pesquisa do Sistema Solar, na Alemanha, e da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, explicam que a composição química de um planeta funciona como um arquivo da sua história inteira, inclusive do lugar onde ele se formou.

A chave para descobrir isso são os isótopos, que são versões ligeiramente diferentes do mesmo elemento químico, com pesos um pouco diferentes por causa do número de nêutrons no núcleo. No começo do Sistema Solar, esses isótopos não estavam espalhados de maneira uniforme. Materiais que se formaram mais longe do Sol acabavam com proporções um pouco diferentes dos que se formaram mais perto. Por isso, quando olhamos as rochas de um planeta ou da Lua, a “assinatura” desses isótopos conta de onde vieram os tijolos que construíram aquele mundo.

No novo estudo, os cientistas analisaram com uma precisão nunca antes alcançada a proporção de isótopos de ferro em rochas da Terra e em amostras trazidas da Lua pelas missões Apollo. Eles examinaram quinze rochas terrestres e seis amostras lunares. O resultado confirmou o que já se suspeitava com outros elementos, como cromo, cálcio, titânio e zircônio: a Terra e a Lua têm proporções de isótopos praticamente idênticas.

Essa semelhança é impressionante, mas não explica sozinha o que aconteceu com Theia. Existem várias hipóteses sobre como a Lua se formou: alguns acham que ela é feita principalmente do material de Theia, outros acreditam que ela veio sobretudo do manto da Terra primitiva, e há quem diga que os materiais dos dois corpos se misturaram tanto que as assinaturas químicas viraram uma só.

Para resolver o enigma, a equipe tratou o problema como um desafio de engenharia reversa. Partindo do fato de que hoje Terra e Lua têm composições isotópicas quase iguais, eles fizeram cálculos para descobrir quais combinações de tamanho e composição de Theia, junto com as características da Terra jovem, poderiam ter levado a esse resultado final. Eles olharam não só o ferro, mas também cromo, molibdênio e zircônio, porque cada um desses elementos guarda memórias de fases diferentes da formação dos planetas.

Antes mesmo da colisão, a Terra já tinha passado por um processo interno importante: o ferro e outros metais pesados afundaram e formaram o núcleo. Por isso, o ferro que hoje está no manto terrestre provavelmente chegou depois, trazido em grande parte por Theia. Já elementos como o zircônio, que ficaram no manto o tempo todo, registram a história completa da Terra desde o início.

Comparando tudo isso com meteoritos, que são pedaços de corpos que se formaram em regiões específicas do Sistema Solar e conservam a química daqueles lugares, os cientistas conseguiram eliminar várias possibilidades que não faziam sentido. O cenário que melhor explica os dados é que tanto a Terra quanto Theia se formaram na parte interna do Sistema Solar e eram praticamente vizinhas. Theia, porém, parece ter incorporado material ainda mais próximo do Sol do que a Terra, uma região cujos restos não chegaram até nós na forma de meteoritos que conhecemos hoje.

Em resumo, as rochas da Lua, que pareciam apenas pedaços silenciosos de pedra cinzenta, acabaram sendo as testemunhas perfeitas de um planeta perdido. Graças a elas, agora sabemos que Theia nasceu bem perto do Sol, cresceu ao lado da Terra e, num impacto catastrófico, acabou se sacrificando para dar origem ao nosso satélite natural e ajudar a moldar o planeta que habitamos hoje.

Terrarara.com.br

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