Usando o Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA) do ESO, os astrónomos criaram um vasto atlas infravermelho de cinco berçários estelares próximos, reunindo mais de um milhão de imagens.
Esses grandes mosaicos revelam estrelas jovens em formação, embutidas em espessas nuvens de poeira. Graças a essas observações, os astrônomos têm uma ferramenta única para decifrar o complexo quebra-cabeça do nascimento estelar.
Esta imagem mostra a região L1688 na constelação de Ophiuchus. Novas estrelas nascem nas nuvens coloridas de gás e poeira vistas aqui. As observações infravermelhas subjacentes a esta imagem revelam novos detalhes nas regiões de formação estelar que são geralmente obscurecidas pelas nuvens de poeira. A imagem foi produzida com dados recolhidos pelo instrumento VIRCAM, que está acoplado ao telescópio VISTA no Observatório do Paranal do ESO, no Chile. As observações foram feitas como parte da pesquisa VISIONS, que permitirá aos astrônomos entender melhor como as estrelas se formam nessas regiões envoltas por poeira. Crédito: ESO/Meingast et al
"Nessas imagens, podemos detectar até mesmo as fontes de luz mais fracas, como estrelas muito menos massivas do que o Sol, revelando objetos que ninguém nunca viu antes", diz Stefan Meingast, astrônomo da Universidade de Viena, na Áustria, e principal autor do novo estudo publicado hoje na revista Astronomy and Astrophysics. "Isso nos permitirá entender os processos que transformam gás e poeira em estrelas."
As estrelas se formam quando nuvens de gás e poeira colapsam sob sua própria gravidade, mas os detalhes de como isso acontece não são totalmente compreendidos. Quantas estrelas nascem de uma nuvem? Quão massivos eles são? Quantas estrelas também terão planetas?
Para responder a estas perguntas, a equipa de Meingast pesquisou cinco regiões próximas de formação de estrelas com o telescópio VISTA no Observatório do Paranal do ESO, no Chile. Usando a câmera infravermelha VIRCAM do VISTA, a equipe capturou a luz vinda das profundezas das nuvens de poeira. "A poeira obscurece essas jovens estrelas de nossa visão, tornando-as praticamente invisíveis aos nossos olhos. Somente em comprimentos de onda infravermelhos podemos olhar profundamente para essas nuvens, estudando as estrelas em formação", explica Alena Rottensteiner, estudante de doutorado também da Universidade de Viena e coautora do estudo.
A pesquisa, chamada VISIONS, observou regiões de formação estelar nas constelações de Orion, Ophiuchus, Chamaeleon, Corona Australis e Lupus. Essas regiões estão a menos de 1500 anos-luz de distância e são tão grandes que abrangem uma enorme área no céu. O diâmetro do campo de visão do VIRCAM é tão largo quanto três Luas cheias, o que o torna excepcionalmente adequado para mapear essas regiões imensamente grandes.
A equipe obteve mais de um milhão de imagens em um período de cinco anos. As imagens individuais foram então reunidas nos grandes mosaicos aqui divulgados, revelando vastas paisagens cósmicas. Esses panoramas detalhados apresentam manchas escuras de poeira, nuvens brilhantes, estrelas recém-nascidas e estrelas de fundo distantes da Via Láctea.
Como as mesmas áreas foram observadas repetidamente, os dados do VISIONS também permitirão que os astrônomos estudem como as estrelas jovens se movem. "Com o VISIONS monitorizamos estas estrelas bebés ao longo de vários anos, permitindo-nos medir o seu movimento e aprender como deixam as nuvens parentais", explica João Alves, astrónomo da Universidade de Viena e investigador principal do VISIONS.
Não é uma tarefa fácil, já que o deslocamento aparente dessas estrelas vistas da Terra é tão pequeno quanto a largura de um cabelo humano visto a 10 quilômetros de distância. Essas medições de movimentos estelares complementam as obtidas pela missão Gaia da Agência Espacial Europeia em comprimentos de onda visíveis, onde estrelas jovens são escondidas por grossos véus de poeira.
O atlas VISIONS manterá os astrônomos ocupados nos próximos anos. "Há aqui um enorme valor duradouro para a comunidade astronómica, e é por isso que o ESO orienta inquéritos públicos como o VISIONS", diz Monika Petr-Gotzens, astrónoma do ESO em Garching, Alemanha, e coautora deste estudo. Além disso, o VISIONS irá preparar as bases para futuras observações com outros telescópios, como o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, atualmente em construção no Chile e que deverá começar a operar no final desta década.
"O ELT nos permitirá ampliar regiões específicas com detalhes sem precedentes, dando-nos uma visão de perto nunca antes vista de estrelas individuais que estão atualmente se formando lá", conclui Meingast.
Fonte: ESO
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