Um político e antiquário belga é hoje lembrado por suas imagens microscópicas e astronômicas, bastante precisas para sua época.
Nascido em 1830 numa família belga enriquecida por negócios como o refino de açúcar e a fabricação de linho, Adolphe Neyt Jr. seguiu os passos do pai e do tio na política, tornando-se membro da Câmara Municipal de Ghent e, mais tarde, foi eleito para o Conselho Provincial (1865-69), equivalente à Câmara dos Deputados. De inclinações liberais, teve pouca ambição política e hoje seria apenas uma nota de rodapé na História da Bélgica, não fosse seu envolvimento com ciência, cultura e fotografia.
Formado na Universidade de Ghent, seus verdadeiros interesses estavam em coisas como antiguidades e bibliotecas. Como político e ativista, Adolphe Jr. fez parte do comitê de apoio às bibliotecas públicas. A riqueza de sua família lhe permitiu acumular uma grande coleção de armas antigas e porcelanas, mais tarde legadas ao Museu de História e Antiguidades de Ghent, do qual foi membro fundador. Quem o levou para o mundo da fotografia foi um cunhado famoso.
Em meados dos anos 1850, Neyt foi treinado em fotografia por ninguém menos que Friedrich Kekulé [1829-1896], aquele químico alemão que sonhava com cobras. Rapidamente Junior percebeu que a fotografia seria uma ferramenta de extrema importância na pesquisa científica.
Vindo de uma cultura que havia sido pioneira na microscopia, não é surpresa que ele tenha começado a experimentar a aplicação da fotografia à observação de cristais e micro-organismos a partir de 1857. Cinco anos mais tarde, ele apresentou uma série de imagens estereoscópicas destes temas à Academia Real de Ciências da Bélgica, onde não foi bem recebido. O reconhecimento só veio depois de mais cinco anos, quando recebeu uma medalha de prata na Exposição Mundial de Paris de 1867.
Talvez por isso seu trabalho seguinte tenha sido mais ambicioso. Bem mais ambicioso, trocando o micro pelo macro. Com acesso a um telescópio de reflexão da família, Adolphe Jr. resolveu tirar fotos da Lua. Hoje isso pode parecer banal mas há um século e meio era uma empreitada difícil e arriscada. Ele conseguiu apenas 12 fotografias lunares, mas nelas a Lua era apresentada com um brilho e nitidez jamais vistos. O resultado foi publicado no Atlas photographique de la lune. Essai de cartes photographies de la lune (1869).
Depois disso, Neyt voltou ao mundo microscópico e fez uma longa colaboração com o biólogo Edouard van Beneden, que pesquisava parasitas. Por isso, ao longo de vários anos, Adolphe Jr. tirou nada menos que 200 fotomicrografias do verme Ascaris megalocephalis. Esse trabalho só foi publicado em 1887.
No começo dos anos 1880, ele também colaborou com o professor de física Joseph Plateau [1801-1883] no registro fotográfico de superfícies formadas por sabão. Basicamente, eram bolhas montadas sobre estruturas geométricas, como a imagem a seguir. Esse trabalho ajudou Plateau a calcular a espessura e as tensões moleculares do filme de “líquido glicérico”.
Nos anos seguintes, Adolphe Neyt Jr. adoeceu e veio a falecer em Ostende, em 1892, aos 62 anos. Casado com Elise Drory, filantropa de origem britânica e também liberal, ele não deixou filhos, o que causou um imbroglio jurídico quanto à sua herança, resolvido apenas em 1921. Elise não deu muita importância às suas obras fotográficas e, pouco depois da morte do marido, doou muitas de suas fotos e seu equipamento à Universidade de Ghent, que no entanto digitalizou poucas dessas imagens. Fotos de sua coleção de armas antigas podem ser vistas aqui.
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