Utilizando um dos mais poderosos telescópios do mundo, cientistas observaram um raro fenômeno astronômico: a colisão colossal de ao menos 14 galáxias que pode ter resultado em um dos maiores objetos conhecidos do Universo. O evento cósmico aconteceu há 12,4 bilhões de anos, quando o Universo tinha apenas 1,4 bilhão de anos, cerca de um décimo da idade atual. Cálculos sugerem que hoje, o aglomerado deve ter incorporado centenas de outras galáxias e tenha massa equivalente a um quatrilhão de sóis, com grandes quantidades de matéria negra e imensos buracos negros, emitindo gases a temperaturas acima de um milhão de graus.
— Isso excederia qualquer coisa que já vimos no Universo — comentou Carlos De Breuck, astrônomo do Observatório Europeu do Sul, em entrevista ao “Guardian”.
As 14 galáxias estão concentradas numa área de aproximadamente três vezes o tamanho da Via Láctea. Segundo Axel Weib, coautor do estudo publicado nesta semana na revista “Nature”, seria como colocar todos os planetas do Sistema Solar entre a Terra e a Lua. Outros pontos de luz ainda não identificados sugerem que o número total de galáxias caminhando para a colisão pode chegar a 30.
O objeto resultante da colisão é conhecido como aglomerado de galáxias. O que chama atenção deste protoaglomerado, batizado como SPT2349-56, é que ele não deveria existir. Modelos computadorizados e teóricos atuais sugerem que tais formações levariam bilhões de anos para se desenvolverem, mas o SPT2349-56 se formou apenas 1,4 bilhão de anos após o Big Bang.
— Como este conjunto de galáxias se tornou tão grande tão rápido é um mistério — apontou Tim Miller, candidato a PhD na Universidade Yale e um dos líderes dos estudos. — Ele não foi construído gradualmente ao longo de bilhões de anos, como os astrônomos esperavam. Esta descoberta fornece uma grande oportunidade para estudar como galáxias se reúnem para formar imensos aglomerados de galáxias.
A imagem capturada pelo telescópio mostra os 14 pontos brilhantes - ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), T. Miller & S. Chapman et al.; Herschel; South Pole Telescope; (NRAO/AUI/NSF) B. Saxton
As 14 galáxias em rumo de colisão são do tipo “starburst”, que formam estrelas a uma taxa mil vezes mais veloz que uma galáxia comum, como a nossa Via Láctea. Com tamanha concentração, a região é de longe a mais ativa já observada no Universo jovem. Lá se formavam milhares de estrelas a cada ano, contra apenas uma na Via Láctea. Segundo Iván Oteo, da Universidade de Edimburgo, esta característica também era inesperada.
— Acredita-se que o tempo de vida das “starbursts” seja relativamente curto, porque elas consomem seu gás a uma taxa extraordinária — explicou Oteo. — Em qualquer momento, em qualquer canto do Universo, essas galáxias são geralmente a minoria. Então, encontrar tantas galáxias “starburst” brilhando ao mesmo tempo é desconcertante, algo que ainda precisamos compreender.
O protoaglomerado SPT2349-56 foi observado pela primeira vez em 2010, como um pequeno ponto brilhante pelo Telescópio South Pole, da Fundação Nacional de Ciências dos EUA. Observações posteriores com o Atacama Pathfinder Experiment confirmaram se tratar de uma fonte galática extremamente distante, por isso, observações foram realizadas pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).
— O ALMA nos deu, pela primeira vez, um ponto de partida claro para prever a evolução dos aglomerados de galáxias — disse Scott Chapman, astrofísico na Universidade Dalhousie. — Com o tempo, as 14 galáxias que observamos irão parar de formar estrelas, colidir e se aglutinar numa única galáxia gigante.