O Ser existe e subsiste por sua própria natureza, isso é a própria essência do ser em si : ele é em si mesmo, não é "para" ou por, sua existência contém o seu próprio propósito e significado intrínseco. Essa premissa ontológica é em relação a Deus ,pois não existe propósito ou sentido que Lhe seja exterior. Porém, em relação a nós, não se dá o mesmo. Ao contrário do ser de Deus ("Aquele que é "), nós somos provisoriamente, ou seja, nosso ser é um ser sempre se fazendo, sempre em construção. Se Deus está fora do tempo, ou seja, não cabe em nossa perspectiva de temporalidade, o humano, ao contrário, é um ser do tempo e um ser no tempo.
O que fui ,minha história de vida, faz parte do que estou sendo, o que serei já se encontra, enquanto potencialidade, naquele que estou sendo. Se ,nesse momento presente, eu puder sentir a minha própria presença enquanto "estar no mundo " ,se eu puder sentir em sua plenitude esse momento como pertencimento do meu eu ao mundo ,à natureza em mim e à minha volta, e à comunidade dos seres vivos e das pessoas, então, nesse momento, terei provisoriamente a felicidade e esse será o sentido desse momento. Isso, naturalmente, não irá perdurar, pois é de nossa constituição humana esse estar sempre se fazendo, em constantes desequilíbrios e reequilíbrios.
Mas, obviamente, esse momento de comunhão com o mundo, com o outro e com minha própria interioridade, essa sensação intensa de pertencimento poderá ser reconstituída em outros momentos e circunstâncias. Esse será, para nós, a percepção de um sentido e de um propósito, sempre em construção, sempre nessa relação constituinte do eu ,entre o mundo, o outro e minha própria subjetividade.
Agora, sobre nascer e morrer, essa contingência biológica repõe e permite o equilíbrio no mundo natural. Há um ciclo em que cada corpo depositado na terra irá servir como nutrientes a outras espécies vivas. Um teísta cristão acredita na imortalidade da alma, que é assim como que uma continuidade não dependente do corpo biológico.
Então, para ele ,o seu existir está inscrito nos propósitos dAquele que o criou ,viver para o amor e viver para amar, na dimensão dos cuidados com o planeta, dos cuidados com o vulnerável, na promoção da excelência do convívio e das interações com o mundo ,com o outro e consigo mesmo, pois é assim e somente assim que se pode ir vivendo no amor e pelo amor de Deus em nós. Isso não significa que um não cristão ,um ateu,agnóstico, etc…não encontre sentido em sua vida .
A ele ,também, será possível construir um sentido na experiência de cuidados ,de acolhimento e de compartilhamento que nos traz a dimensão do pertencimento ao planeta terra, ao mundo natural, à comunidade dos seres vivos e à comunidade das pessoas humanas, envolvendo— se profundamente e ativamente promoção da qualidade dessas interações.
Todos iremos morrer um dia, mas isso não precisa significar que a experiência de estar vivo e de se sentir vivo não tenha ,em si mesma, um sentido, uma positividade e um propósito. Sou um teísta cristão ,fisicalista não redutivo, e esse é o meu modo de ver as coisas. Outros, naturalmente, terão outra opinião a esse respeito.