Esquerda: gráfico da profundidade da depressão Hellas e um mapa topográfico da mesma. Direita: gráfico da profundidade da depressão Galaxias Fossae e um mapa topográfico da mesma. Crédito: Joseph Levy/NASA
De acordo com um estudo liderado por cientistas da Universidade do Texas, em Austin, uma depressão de forma estranha, em Marte, poderá ser um novo local para procurar sinais de vida. A depressão foi provavelmente formada por um vulcão por baixo de um glaciar e poderá ter sido um ambiente quente e rico em produtos químicos, bem adequado para a vida microbiana. Os resultados foram publicados este mês na revista Icarus. "Nós fomos atraídos para este local porque parecia que podia hospedar alguns dos principais ingredientes para habitabilidade - água, calor e nutrientes," comenta o autor principal Joseph Levy, investigador associado do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas.
A depressão encontra-se dentro de uma cratera empoleirada na orla da bacia Hellas em Marte e cercada por antigos depósitos glaciais. Chamou a atenção de Levy em 2009, quando notou características tipo-fissuras em imagens de depressões captadas pela sonda MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) semelhantes a caldeiras de gelo na Terra, formações encontradas na Islândia e na Gronelândia produzidas por vulcões em erupção sob uma camada de gelo. Outra depressão na região Galaxias Fossae de Marte tem uma aparência idêntica.
Depressão localizada dentro de uma cratera na orla da bacia Hellas de Marte. Uma nova pesquisa sugere que a depressão foi formada por atividade vulcânica por baixo de uma camada de gelo - um ambiente que poderia ser hospitaleiro à vida microbiana. Crédito: Joseph Levy/NASA
"Estas formações chamaram a nossa atenção porque são estranhas. São fraturadas concentricamente, de modo que se parecem com um alvo. Isso pode ser um padrão muito diagnóstico que vemos em materiais da Terra," afirma Levy, que era investigador pós-doutoral da Universidade Estatal de Portland quando viu pela primeira vez fotografias das depressões. Mas só este ano é que ele e a sua equipa de investigação foram capazes de analisar mais profundamente as depressões usando imagens estereoscópicas para investigar se foram feitas por atividade vulcânica que derreteu a superfície de gelo ou pelo impacto de um asteroide.
Timothy Goudge, colaborador do estudo, colega de pós-doutoramento no instituto, usou pares de imagens de alta resolução para criar modelos de elevação digital das depressões que permitiram uma análise aprofundada da sua forma e estrutura em 3-D. Cientistas da Universidade de Brown e de Mount Holyoke também participaram no estudo. A grande contribuição do estudo foi o facto de termos sido capazes de medir não apenas a sua forma e aparência, mas também quanto material foi perdido para formar as depressões. Essa visão tridimensional permite-nos testar esta ideia de vulcanismo ou impacto," salienta Levy. A análise revelou que ambas as depressões partilham uma invulgar forma de funil, com um perímetro amplo que gradualmente se estreita com a profundidade.
"Ficámos surpreendidos e isso levou à reflexão se significava um aquecimento concentrado no centro que removeu gelo e permitiu o derramamento de material dos lados. Ou, caso fosse uma cratera de impacto, se começou com uma cratera muito mais pequena no passado e, através da sublimação do gelo, cresceu até ao tamanho aparente da cratera," observa Levy.
Uma depressão na região Galaxias Fossae de Marte, vista a partir de várias perspetivas. Uma nova pesquisa sugere que a depressão foi formada pelo impacto de um asteroide. Crédito: Joseph Levy/NASA
Depois de testarem cenários para a formação das duas depressões, os investigadores descobriram que provavelmente formaram-se de maneiras diferentes. Os detritos espalhados em redor da depressão de Galaxias Fossae sugere que foi o resultado de um impacto - mas a conhecida história vulcânica da região ainda não descarta origens vulcânicas, realça Levy. Em contraste, a depressão Hellas tem muitos sinais de origens vulcânicas. Não tem os detritos circundantes de um impacto e tem um padrão de fraturas associado com a remoção concentrada de gelo por fusão ou sublimação.
A interação de lava e gelo para formar uma depressão seria um achado excitante, diz Levy, porque criaria um ambiente com água líquida e nutrientes químicos, ingredientes necessários para a vida na Terra. Ele acrescenta que a depressão Hellas e, em menor escala, a depressão Galaxias Fossae, devem ser mantidas em mente quando se procurar habitats em Marte.
Gro Pedersen, vulcanólogo da Universidade da Islândia, que não esteve envolvido com o estudo, concorda que as depressões são locais promissores para investigações futuras.
"Estas características realmente assemelham-se com caldeiras de gelo cá na Terra e, somente dessa perspetiva, devem ser de grande interesse," comenta Pedersen. "Tanto porque a sua existência pode fornecer informações sobre as propriedades do material subterrâneo - a potencial existência de gelo - como devido ao potencial para revelar interações gelo-vulcão."
Fonte: Astronomia Online